Na próxima segunda-feira, dia 19 de junho, cumpre-se 491 anos sobre a
morte do arcebispo D. Diogo de Sousa, incontornavelmente, o maior vulto da
história de Braga. Arcebispo e senhor de Braga entre 1505 e 1532, lançou as bases
do urbanismo da cidade quase até à contemporaneidade, tendo promovido a sua
decisiva revitalização, num momento histórico em que poderia ter sido condenada
ao esquecimento, porque a epopeia marítima havia voltado Portugal para o mar.
Conhecedor da Roma renascentista, dotaria Braga de novas ruas e espaços
urbanos, rompendo com o espartilho das muralhas medievais, abrindo praças e
novas ruas, adornando a cidade de fontes, cruzeiros e templos, mas também de infraestruturas
para o comércio, tendo também fundado o primeiro hospital da cidade e a
primeira instituição de ensino público, o Colégio de São Paulo, ainda que não o
tenha posto a funcionar.
Apesar do reconhecimento generalizado do seu papel na história da
cidade de Braga, este arcebispo a sua memória continua a não ser evocada da
forma que justifica. Dizia José Ferreira, há quase um século, que D. Diogo de
Sousa “é considerado o maior benfeitor de Braga, e esta cidade deve-lhe um
monumento público, e não resgatará o labéu de ingrata, enquanto não o fizer”. Quase
cinco séculos depois da sua passagem, a nossa cidade mantém esse pesaroso labéu
e não parece interessada em deixá-lo.
Apesar de discutido o seu papel no contexto da arte contemporânea, as
estátuas continuam a afirmar-se como meio preferencial para a preservação e
salvaguarda da memória coletiva das comunidades. Erguidas como prova de
homenagem e como valor de memória, afirmam-se como marcos fundamentais de
identidade.
Utilizadas pelas civilizações clássicas como forma de homenagear os
deuses e os detentores do poder, foram recurso crescentemente utilizado a
partir do Renascimento, confirmando o seu papel no contexto urbano até aos
nossos dias. As estátuas continuam a ser a mais relevante forma de evocação das
personalidades mais relevantes da história de uma comunidade.
Monumentais e destacados, atraindo os olhares de quem passa, este tipo
de linguagem evocativa mostra-se hodiernamente particularmente eficaz. Como não
recordar a icónica estátua de Cristóvão Colombo em Barcelona, a imponente
estátua do Marquês de Pombal em Lisboa ou a marcante Coluna de Nelson, no
centro da Trafalgar Square, em Londres?
Há precisamente dois anos, a Câmara Municipal de Braga teve a
iniciativa, aparentemente pródiga e feliz, de erguer um monumento evocativo ao
arcebispo D. Diogo de Sousa, que teria sido ação meritória, se efetivamente
tivesse cumprido o seu propósito, e não tivesse cometido três graves equívocos.
O primeiro refere-se à localização: a relevância da personalidade não justificaria
um lugar de destaque no contexto do centro cívico bracarense, encontrando-se
remetida àquele lúgubre? O segundo erro refere-se à forma: seria possível almejar
uma homenagem relevante, estando refém de um concurso de ideias e não apostando
num artista de reconhecidos méritos? O
terceiro, e fundamental, lapso foi a dotação: como se pode levar a efeito a
evocação da principal figura da história de uma cidade, sem um orçamento
proporcional à sua importância?
Quantos bracarenses, minimamente conscientes do papel determinante de
D. Diogo de Sousa na história da cidade de Braga, se sentem devidamente
penhorados, quando contemplam aquele monumento evocativo?
Estamos a precisamente nove anos de distância de assinalar o quinto
centenário da morte de D. Diogo de Sousa. Oxalá possa ser oportunidade para que
as principais instituições bracarenses, Câmara Municipal de Braga, Arquidiocese
de Braga e Universidade do Minho, se unam, não apenas para evocar o homem e a
sua obra, mas principalmente para erguer a estátua que o arcebispo D. Diogo de
Sousa plenamente justifica.
Rui Ferreira
Presidente da Direção da Braga Mais
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