terça-feira, 28 de novembro de 2023

MEMÓRIAS DE BRAGA: antigo Cinema São Geraldo

 


Associação Braga Mais promove no próximo dia 7 de dezembro, pelas 21h15, mais uma sessão do ciclo Memórias de Braga, que se vai debruçar sobre o antigo Cinema São Geraldo, emblemática sala de espetáculos bracarense, que funcionou entre 1950 e 1990.

Esta sessão evocativa, que se realiza no Museu do Traje Dr. Gonçalo Sampaio, terá como convidados Luís Tarroso Gomesum dos mentores do movimento cívico “São Geraldo Cultural”, e também do ator e encenador José Miguel Braga, contando com moderação de Rui Ferreira.

O velho cinema São Geraldo, que abriu as portas no dia 1 de junho de 1950 como a primeira sala exclusivamente destinada à sétima arte na cidade de Braga, nasceu no mesmo edifício do antigo Salão Recreativo Bracarense, fundado em 1924 nos terrenos do antigo Convento dos Remédios. Trata-se de uma iniciativa do padre Manuel Ribeiro Braga, sob projeto de Bernardo José de Lima, que ficaria ao serviço dos operários católicos, onde decorriam conferências, recitais, exposições, sessões cinematográficas, banquetes, bailes e festas.

Reconvertido numa sala de cinema, funcionaria com essa missão durante quatro décadas, entre 1950 e 1990, tendo voltado a funcionar temporariamente, enquanto decorriam as obras de reabilitação dos cinemas Avenida.

Salvo recentemente de um empreendimento imobiliário, que iria promover a sua destruição, graças à mobilização dos cidadãos bracarenses através da plataforma São Geraldo Cultural, o edifício tem previsto ser transformado num Centro de Media Arts pela Câmara Municipal de Braga.

Como vem sendo habitual, durante a sessão estará exposta uma pequena mostra de documentos e fotografias recolhidos por Fernando Mendes, que complementam a informação que será abordada nesta sessão.

Recorde-se que o ciclo Memórias de Braga realiza-se, com constância trimestral. Cada conversa, que se quer informal, anda à volta de um ou mais convidados. O objetivo é mesmo o de conversar, público e convidados, no sentido de partilhar e construir memórias sobre a cidade.

 

sábado, 4 de novembro de 2023

+ CIDADANIA: Braga brasileira

A cidade de Braga destaca-se atualmente como o principal lugar de acolhimento de brasileiros em Portugal. O surto migratório, iniciado há quase uma década, fez crescer exponencialmente a presença da população proveniente do Brasil na urbe bracarense, acreditando-se que possa corresponder a quase 8% do total da população urbana.

Segundo os números oficiais, no concelho de Braga conta-se 7 774 imigrantes oriundos do Brasil. No entanto, segundo a autarquia e as associações de acolhimento esse número pode corresponder ao dobro.

Esta presença tão significativa de brasileiros na cidade de Braga tem alterado a sua fisionomia e redesenhado os ritmos do quotidiano. Esta transformação tão acelerada, como qualquer outra mudança, tem provocado reações díspares na comunidade bracarense. A generalidade da população tem manifestado um acolhimento exemplar, todavia existe uma minoria que tem expressado desagrado e, até, alguma agressividade.

A verdade é que esta tão assertiva presença da comunidade brasileira tem provocado transformações muito positivas na nossa cidade. Além da revitalização urbana potenciada pela ocupação de apartamentos constantemente vazios ou pela criação de negócios em espaços comerciais outrora devolutos, estes novos bracarenses têm-se demarcado pelo seu entusiasmo pela mundividência bracarense.

Os bracarenses brasileiros, permitam-me assim chamá-los, não têm sido apenas responsáveis pela dinamização da economia da cidade, mas manifestam um expressivo afeto pela identidade braguesa. Esta paixão tem-se revelado na apropriação crescente dos espaços urbanos, como as praças das urbanizações em que residem e até do olvidado Parque da Ponte, mas também numa intensa participação nos grandes momentos da nossa vida coletiva, de que a Semana Santa e as Festas de São João são a expressão mais significativa, contudo também revelada na inauguração de novas expressões de religiosidade e, até, no crescimento de associados do Sporting Clube de Braga. 

Porém, não se pense que este vínculo de Braga ao Brasil detém apenas uma década de existência. A ligação histórica da comunidade bracarense com a antiga Terra de Vera Cruz revela uma particular ancestralidade. Basta recordar que é em Braga, mais precisamente no Tesouro-Museu da Sé, que se guarda a cruz que presidiu à primeira missa celebrada em solo brasileiro. Foi desde Braga, e do seu entorno geográfico, que partiram muitos dos artistas que construíram o barroco de Minas Gerais. Como não recordar o Bom Jesus de Congonhas, que procurou replicar o nosso Bom Jesus do Monte? Este intercâmbio cultural ficaria também patente nos festejos sanjoaninos bracarenses, apelidados em meados do século XVIII como o “Brasil da cidade”.

Seria ainda devido ao empreendedorismo e capital financeiro dos “torna-viagem” que a cidade mergulharia num surto desenvolvimento decisivo na segunda metade do século XIX, tendo estado até na origem da fundação do Banco do Minho. Quantos bracarenses não se lembram ainda de nomes como Miguel José Raio, Joaquim Machado Caires ou do Conde de Agrolongo, cuja ação continua gravada na fisionomia da cidade? 

Esta grande comunidade proveniente do outro lado do Atlântico tornou a cidade de Braga mais alegre, espontânea e bem-disposta, concedendo nova vida a urbanizações anteriormente decadentes, trazendo movimento e dinâmica às nossas ruas ou ajudando a valorizar os principais traços da nossa identidade coletiva.

A nossa cidade hoje já não se limita a dançar o vira ou o malhão, mas agita-se também ao ritmo do samba ou do frevo. À hospitalidade e alegria tão típicas do povo minhoto, associamos também a excitação, o ruído e o sorriso espontâneo daqueles que se deixaram deslumbrar pela nossa forma de ser. Esta Braga brasileira, também conhecida como “Bragasil”, tem, efetivamente, potenciado o melhor de nós.

Será possível não nos deixarmos entusiasmar com tão proveitosa presença?

 

 

Rui Ferreira

Presidente da Direção da Braga Mais