sábado, 17 de junho de 2023

+ CIDADANIA: Uma estátua a D. Diogo de Sousa

 

Na próxima segunda-feira, dia 19 de junho, cumpre-se 491 anos sobre a morte do arcebispo D. Diogo de Sousa, incontornavelmente, o maior vulto da história de Braga. Arcebispo e senhor de Braga entre 1505 e 1532, lançou as bases do urbanismo da cidade quase até à contemporaneidade, tendo promovido a sua decisiva revitalização, num momento histórico em que poderia ter sido condenada ao esquecimento, porque a epopeia marítima havia voltado Portugal para o mar.

Conhecedor da Roma renascentista, dotaria Braga de novas ruas e espaços urbanos, rompendo com o espartilho das muralhas medievais, abrindo praças e novas ruas, adornando a cidade de fontes, cruzeiros e templos, mas também de infraestruturas para o comércio, tendo também fundado o primeiro hospital da cidade e a primeira instituição de ensino público, o Colégio de São Paulo, ainda que não o tenha posto a funcionar.

Apesar do reconhecimento generalizado do seu papel na história da cidade de Braga, este arcebispo a sua memória continua a não ser evocada da forma que justifica. Dizia José Ferreira, há quase um século, que D. Diogo de Sousa “é considerado o maior benfeitor de Braga, e esta cidade deve-lhe um monumento público, e não resgatará o labéu de ingrata, enquanto não o fizer”. Quase cinco séculos depois da sua passagem, a nossa cidade mantém esse pesaroso labéu e não parece interessada em deixá-lo.

Apesar de discutido o seu papel no contexto da arte contemporânea, as estátuas continuam a afirmar-se como meio preferencial para a preservação e salvaguarda da memória coletiva das comunidades. Erguidas como prova de homenagem e como valor de memória, afirmam-se como marcos fundamentais de identidade.

Utilizadas pelas civilizações clássicas como forma de homenagear os deuses e os detentores do poder, foram recurso crescentemente utilizado a partir do Renascimento, confirmando o seu papel no contexto urbano até aos nossos dias. As estátuas continuam a ser a mais relevante forma de evocação das personalidades mais relevantes da história de uma comunidade.

Monumentais e destacados, atraindo os olhares de quem passa, este tipo de linguagem evocativa mostra-se hodiernamente particularmente eficaz. Como não recordar a icónica estátua de Cristóvão Colombo em Barcelona, a imponente estátua do Marquês de Pombal em Lisboa ou a marcante Coluna de Nelson, no centro da Trafalgar Square, em Londres?

Há precisamente dois anos, a Câmara Municipal de Braga teve a iniciativa, aparentemente pródiga e feliz, de erguer um monumento evocativo ao arcebispo D. Diogo de Sousa, que teria sido ação meritória, se efetivamente tivesse cumprido o seu propósito, e não tivesse cometido três graves equívocos.

O primeiro refere-se à localização: a relevância da personalidade não justificaria um lugar de destaque no contexto do centro cívico bracarense, encontrando-se remetida àquele lúgubre? O segundo erro refere-se à forma: seria possível almejar uma homenagem relevante, estando refém de um concurso de ideias e não apostando num artista de reconhecidos méritos?  O terceiro, e fundamental, lapso foi a dotação: como se pode levar a efeito a evocação da principal figura da história de uma cidade, sem um orçamento proporcional à sua importância?

Quantos bracarenses, minimamente conscientes do papel determinante de D. Diogo de Sousa na história da cidade de Braga, se sentem devidamente penhorados, quando contemplam aquele monumento evocativo?

Estamos a precisamente nove anos de distância de assinalar o quinto centenário da morte de D. Diogo de Sousa. Oxalá possa ser oportunidade para que as principais instituições bracarenses, Câmara Municipal de Braga, Arquidiocese de Braga e Universidade do Minho, se unam, não apenas para evocar o homem e a sua obra, mas principalmente para erguer a estátua que o arcebispo D. Diogo de Sousa plenamente justifica.

 

Rui Ferreira

Presidente da Direção da Braga Mais