quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

+ CIDADANIA: O Património como missão

Correio do Minho, 17 de Dezembro de 2019

Quando a Braga Mais nasceu há pouco mais de sete anos, sentimos um imperativo partilhado com um grupo significativo de bracarenses para a salvaguarda e valorização do património cultural. Este sentimento continua hoje presente na nossa missão, pois temos consciência que são inúmeros os desafios que se colocam de forma premente ao património bracarense, seja ele edificado, móvel ou imaterial.
É curioso verificar que as comunidades despertam para a valorização do seu património sempre que sentem alguma ameaça à sua identidade. E não foi diferente na cidade de Braga. Como não recordar o que se passou com a defesa das Sete Fontes? Os cidadãos uniram-se em movimentos e conseguiram alterar o destino daquele complexo monumental. Mais recentemente tivemos o caso de sucesso do movimento “São Geraldo Cultural”, que obrigou o poder político a refletir sobre o destino de um antigo equipamento cultural.
Como sabemos, apesar da sociedade europeia ter manifestado uma peculiar sensibilidade para a preservação dos elementos vinculados às civilizações clássicas a partir do Renascimento, seria em França, mais propriamente na sequência da revolução de 1789, que a necessidade de preservar e salvaguardar o legado patrimonial se revelaria à sociedade (Choay, 2008). Aliás, a palavra “património” remete, desde logo, para a dimensão de posse e de valor intrínseco de uma determinada realidade, sendo, neste caso, aplicada não apenas a um titular, mas a toda a comunidade. O Património é, assim entendido, uma herança ou um legado que recebemos dos nossos antepassados e que temos o dever de preservar.
Tal como as destruições de cidades e monumentos provocadas pela II Guerra Mundial no centro da Europa fez avançar significativamente a sensibilidade patrimonial das sociedades ocidentais a partir de meados do século XX, também os exageros assoladores promovidos pelo jacobinismo francês acabaram por servir de fundamento ao aparecimento dos primeiros mecanismos legais de proteção do Património. Como não recordar a demolição, pedra a pedra, de um dos maiores templos da Cristandade, a Abadia de Cluny, sucedida entre 1791 e 1812 por intermédio dos partidários da revolução francesa? Os tempos de decisões extremas foram sempre os despoletadores de mudanças significativas das sociedades, neste caso no sentido de uma consciencialização mais declarada pelos elementos que se constituiriam como elos de uma identidade partilhada. A responsabilidade pela defesa do Património não é apenas missão dos poderes públicos, mas é tarefa de toda a comunidade. Todos somos chamados a dar um contributo efetivo para a salvaguarda das heranças que definem a nossa identidade.
Podemos promover a salvaguarda do Património de muitas maneiras. A Braga Mais escolheu a divulgação contínua dos nossos diversos patrimónios através dos percursos temáticos promovidos, procurando que cada vez mais bracarenses o conheçam e sejam os seus primeiros divulgadores e promotores da sua proteção.
E dando sequência a este que é o principal eixo da nossa missão, a Braga Mais, juntamente com a JovemCoop, organiza este sábado, a partir das 10h00, mais um percurso pelo património bracarense, desta vez assinalando os 250 anos da morte de André Soares. Iremos percorrer algumas das principais obras deste artista bracarense, deixando o especial desafio aos participantes de trazerem garrafas de azeite de forma a contribuírem para os cabazes de Natal da Comissão Social da Paróquia de São Victor. Contamos consigo?

Rui Ferreira
Presidente da Direção da Braga Mais

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