Correio do Minho, 17 de Dezembro de 2019 |
Quando a Braga Mais nasceu há pouco mais de sete
anos, sentimos um imperativo partilhado com um grupo significativo de
bracarenses para a salvaguarda e valorização do património cultural. Este
sentimento continua hoje presente na nossa missão, pois temos consciência que
são inúmeros os desafios que se colocam de forma premente ao património
bracarense, seja ele edificado, móvel ou imaterial.
É curioso verificar que as comunidades despertam
para a valorização do seu património sempre que sentem alguma ameaça à sua
identidade. E não foi diferente na cidade de Braga. Como não recordar o que se
passou com a defesa das Sete Fontes? Os cidadãos uniram-se em movimentos e
conseguiram alterar o destino daquele complexo monumental. Mais recentemente
tivemos o caso de sucesso do movimento “São Geraldo Cultural”, que obrigou o
poder político a refletir sobre o destino de um antigo equipamento cultural.
Como sabemos, apesar da sociedade europeia ter manifestado
uma peculiar sensibilidade para a preservação dos elementos vinculados às
civilizações clássicas a partir do Renascimento, seria em França, mais
propriamente na sequência da revolução de 1789, que a necessidade de preservar
e salvaguardar o legado patrimonial se revelaria à sociedade (Choay, 2008).
Aliás, a palavra “património” remete, desde logo, para a dimensão de posse e de
valor intrínseco de uma determinada realidade, sendo, neste caso, aplicada não
apenas a um titular, mas a toda a comunidade. O Património é, assim entendido,
uma herança ou um legado que recebemos dos nossos antepassados e que temos o
dever de preservar.
Tal como as destruições de cidades e monumentos
provocadas pela II Guerra Mundial no centro da Europa fez avançar significativamente
a sensibilidade patrimonial das sociedades ocidentais a partir de meados do
século XX, também os exageros assoladores promovidos pelo jacobinismo francês
acabaram por servir de fundamento ao aparecimento dos primeiros mecanismos
legais de proteção do Património. Como não recordar a demolição, pedra a pedra,
de um dos maiores templos da Cristandade, a Abadia de Cluny, sucedida entre
1791 e 1812 por intermédio dos partidários da revolução francesa? Os tempos de
decisões extremas foram sempre os despoletadores de mudanças significativas das
sociedades, neste caso no sentido de uma consciencialização mais declarada
pelos elementos que se constituiriam como elos de uma identidade partilhada. A
responsabilidade pela defesa do Património não é apenas missão dos poderes
públicos, mas é tarefa de toda a comunidade. Todos somos chamados a dar um
contributo efetivo para a salvaguarda das heranças que definem a nossa
identidade.
Podemos promover a salvaguarda do Património de
muitas maneiras. A Braga Mais escolheu a divulgação contínua dos nossos
diversos patrimónios através dos percursos temáticos promovidos, procurando que
cada vez mais bracarenses o conheçam e sejam os seus primeiros divulgadores e
promotores da sua proteção.
E dando sequência a este que é o principal eixo da
nossa missão, a Braga Mais, juntamente com a JovemCoop, organiza este sábado, a
partir das 10h00, mais um percurso pelo património bracarense, desta vez
assinalando os 250 anos da morte de André Soares. Iremos percorrer algumas das
principais obras deste artista bracarense, deixando o especial desafio aos
participantes de trazerem garrafas de azeite de forma a contribuírem para os
cabazes de Natal da Comissão Social da Paróquia de São Victor. Contamos
consigo?
Rui Ferreira
Presidente da Direção da Braga Mais
Sem comentários:
Enviar um comentário