Correio do Minho, 14 de Janeiro de 2020 |
A escrita constituiu-se uma revolução para a
humanidade. Terá tido a sua origem no Próximo Oriente há cerca de cinco mil
anos. Barro, madeira, marfim ou pedra foram os primeiros materiais utilizados
para gravar símbolos. Surgiria, entretanto, pelos Egípcios, a escrita
hieroglífica, constituída por imagens desenhadas. Mais tarde surgiria o papiro,
utilizado como base para a escrita.
Mil anos depois, na China inventou-se a escrita
pictográfica. Coube, porém, aos fenícios inventar o alfabeto na primeira metade
do segundo milénio a.C., limitado a 22 sinais, consonânticos com uma grafia. Os
gregos adotariam esse alfabeto, introduzindo-lhe melhorias.
A invenção da imprensa por Gutenberg levou a uma
célere evolução da escrita, despontando na Renascença uma escrita mais fluída e
amplificadora de sentidos. O primeiro editado foi a Bíblia, em latim, por ele
publicado em 1455, com 642 páginas. A sua execução demorou cerca de cinco anos.
Foi esta facilidade de imprimir conteúdos escritos que permitiu que o livro se
tornasse um objeto acessível a um número crescente de pessoas e se
generalizasse no quotidiano das sociedades.
Do século XVII, especificamente usada na imprensa,
foi evoluindo para soluções muito personificadas até ao século XVIII. Uma via
de uniformização veio a ser prosseguida com o desenvolvimento da imprensa
jornalística moderna, com o perfil que hoje conhecemos e é bastante diferente dos
seus primeiros tempos.
Em Portugal, o primeiro livro impresso, de que
sobram registos, foi publicado no ano de 1495. Foi impresso por Samuel Gacon. Este
impressor era de origem andaluza e terá fugido de Sevilha após o início da
perseguição aos judeus promovida pelos Reis Católicos. Ou seja, um judeu que
encontrou refúgio em Portugal e veio introduzir os seus conhecimentos no nosso
país.
A partir do século XIX as técnicas de impressão
registaram sucessivas evoluções, permitindo o incremento da publicação de
livros, aumentando as tiragens e baixando consideravelmente os preços. O livro
passou a ser de acesso, tendencialmente, universal, permitindo promover as
ideias dos intelectuais e desenvolver a criatividade dos literatos. A abertura
de livrarias generalizou-se. A Livraria Bertrand, no Chiado, em Lisboa, é a livraria
comercial mais antiga de Portugal, tendo sido fundada em 1732 por Pedro Faure.
Em Braga, entre os séculos XVI a XVIII, terá
existido uma espécie de livraria no espaço do Paço Arquiepiscopal. Esta
serviria de suporte à atividade litúrgica e missionária dos sacerdotes da Arquidiocese.
Sabemos que Gonçalo Basto foi nomeado livreiro do Arcebispo no ano de 1600.
Recorde-se também o impressor Frutuoso Lourenço de Basto.
Ao longo do último século e meio, por exemplo,
Braga foi muito pródiga em livrarias que, por motivos diversos, deixaram de
existir. Memoramos as desaparecidas Livraria Cruz, Livraria Gualdino Correia,
Livraria Pax, Livraria Casa do Globo, Livraria Victor, Livraria Augusto Costa.
Livraria Central, Livraria Académica, Livraria Nova Cultura ou Livraria Sameiro,
deixando fora deste rol aquelas que continuam a cumprir, hoje, a sua missão. Muitas
destas livrarias, além de fomentarem o gosto pela leitura e permitirem o acesso
aos livros que se iam publicando, deram um contributo incalculável como
editoras.
Nesse sentido,
a Braga Mais organiza no próximo dia 30 de Janeiro, a partir das 21h30, no
auditório da Junta de Freguesia de São Victor, mais uma sessão do ciclo
“Memórias de Braga”, precisamente evocando as livrarias bracarenses, partindo
da partilha de alguns dos seus protagonistas.
Fernando Mendes
Vice-Presidente da Braga Mais
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