O ano de 2013 prometia ser um momento de grande mudança para Braga. As
eleições autárquicas desse ano seriam, para a maioria dos cidadãos, uma
oportunidade para reformular as prioridades na gestão do território, dada a alteração
inevitável da liderança da Câmara Municipal. Para muitos bracarenses, que
confiaram que a mudança de ciclo político e dos seus protagonistas
representaria uma profunda alteração no âmbito da valorização patrimonial, esta
foi uma década perdida.
Se no âmbito da dinamização cultural, grande parte dos objetivos foram
sendo alcançados - salvo a (inexplicavelmente) gorada pretensão de tornar Braga
na próxima Capital Europeia da Cultura portuguesa – já no âmbito da valorização
patrimonial, a maioria das propostas não passaram de devaneios, jamais ultrapassando
as versões eleitoralistas dos desígnios sufragados, as palavras ditas em
discursos eivados de dotes oratórios ou as parangonas plantadas na imprensa
pelo gabinete de comunicação municipal.
Após mais de uma década, os bracarenses continuam a aguardar pelo
famigerado parque eco-monumental das Sete Fontes (será preciso mais de uma
década para resolver todas as questões urbanísticas e burocráticas?);
permanecem expectantes relativamente à musealização em curso da Ínsula das
Carvalheiras ou à (tantas vezes reafirmada) conservação e musealização das
ruínas da Estação Arqueológica de Santa Marta das Cortiças; e certamente se
encontram desiludidos com o destino do edifício da antiga Saboaria e Perfumaria
Confiança, que havia sido adquirido pela Câmara Municipal de Braga (com o
suporte dos atuais protagonistas políticos), para ser utilizado para
finalidades culturais, estando atualmente a ser transformado numa residência
universitária que irá densificar, ainda mais, a área urbanizada naquela zona da
cidade.
As grandes conquistas no âmbito da valorização patrimonial não se
deveram diretamente à intervenção municipal, de que são exemplo maior o
reconhecimento do Santuário do Bom Jesus do Monte como Património da Humanidade
pela UNESCO, processo conduzido pela Arquidiocese de Braga e pela Confraria do
Bom Jesus, que seria finalizado em 2019; e a inscrição das solenidades da
Semana Santa de Braga no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial, uma
iniciativa da Comissão da Semana Santa terminada em 2022.
Numa cidade cujos responsáveis afirmam a Cultura como uma prioridade,
esfregando no rosto dos mais críticos o título de Capital Nacional da Cultura,
que vai ostentar durante o ano que agora se inicia, como justificar que o Museu
da Imagem – uma das iniciativas do executivo municipal que havia sido tão
criticado por um presumível desleixo cultural – esteja fechado para obras há
seis anos; que a Casa dos Crivos, única galeria municipal, se encontre na mesma
situação há quatro anos; ou que a Torre de Menagem, que passou a estar aberta
em permanência desde 2017, com uma exposição permanente sobre a história da
cidade, se encontre encerrada para a substituição de uma trave de madeira?
Por mais eventos que sejam criados ou reformulados, alguns com
especiais méritos histórico-patrimoniais, como é o caso da Braga Barroca ou do
Festival de Órgão, isso não significa necessariamente uma aposta declarada na
valorização patrimonial. Aliás, à luz da presuntiva Estratégia Cultural
2020-2030, já foram sentenciadas algumas das dinâmicas culturais inauguradas no
presente ciclo político, como são os paradigmáticos casos do Festival de
Guitarra, o programa “Olhó Teatro”, o Concurso de Bandas Filarmónicas, o projeto de Musicologia “Património
Musical do Concelho de Braga” ou o Prémio de História Local Dr. Manuel Monteiro.
Como nos diz
Umberto Eco, no seu célebre ensaio de crítica cultural, “o Apocalipse é
uma obsessão do 'dissenter', a integração é a realidade concreta dos que não
dissentem". Ou seja, como traçar uma estratégia cultural tentando impingir
à população um conjunto de opções profundamente elitistas, descurando a
identidade do território e aquilo que os seus agentes e entidades já produzem?
Oferecer mais e melhores condições para a criatividade é um enorme mérito
daquele documento, e uma enorme fragilidade do contexto cultural bracarense
hodierno, no entanto, jamais poderemos descurar a dinâmica que os bracarenses
já são capazes de gerar, nomeadamente a relevância da investigação histórica e
todas as expressões da cultura popular.
Desejamos que o ano de 2025 seja efetivamente um momento de
transformação para Braga no âmbito da valorização patrimonial. Esperamos, acima
de tudo, que as diversas propostas que sejam apresentadas aos bracarenses para
o próximo ciclo de governação municipal, não olvidem a relevância histórica e
patrimonial do nosso território, mas determinadamente desafiem a teia de
interesses instalados e percebam a Cultura, com tudo o que implica no âmbito da
valorização patrimonial, como o caminho mais direto para a coesão da comunidade
e para a sua afirmação nacional e internacional.
Rui Ferreira
Presidente da Direção da Braga Mais
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