sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

+ PATRIMÓNIO: Visita guiada às obras de Carlos Amarante


A associação Braga +, em parceria com a União de Freguesias de São Lázaro e São João do Souto, organiza, no próximo dia 25 de janeiro, sábado, mais um percurso pelo património bracarense, desta feita percorrendo algumas das obras delineadas por Carlos Amarante

Este percurso, que tem início marcado para as 10h00 na Igreja do Pópulo, terá a duração de 90 minutos e será orientado por Rui Ferreira, contando com passagens pela Igreja dos Terceiros, Igreja do Hospital de São Marcos e pela casa onde nasceu o artista. Será também possível vislumbrar o mais antigo desenho conhecido de Carlos Amarante.  

Carlos Luís Ferreira da Cruz Amarante é um dos nomes maiores da arte bracarense. Nascido em Braga no ano de 1748, veio a falecer no dia 22 de janeiro de 1815 na cidade do Porto, onde está se pultado. 

Entre as obras que legou à cidade de Braga encontra-se a igreja do Hospital de S. Marcos; a fachada da igreja do Pópulo; o templo, terreiro de Moisés e escadório das Virtudes no Bom Jesus do Monte; e o palacete dos Vilhena Coutinho (antigo tribunal), entre outras obras que lhe são atribuídas. Protegido do Arcebispo D. Gaspar de Bragança, deixou uma vasta obra na cidade do Porto para onde foi viver nas duas últimas décadas da sua vida.

A evocação do bracarense, que dá nome ao espaço urbano onde se localiza a sede da União de Freguesias de São Lázaro e São João do Souto, tem um cariz solidário, solicitando-se aos participantes que tragam azeite ou leite para as Conferências Vicentinas da paróquia de São Lázaro

Esta iniciativa conta com a colaboração da Unidade Interparoquial da Sé, São João do Souto e Cividade, Santa Casa da Misericórdia, Irmandade de Nossa Senhora da Torre e da Paróquia de São José de São Lázaro.


sábado, 4 de janeiro de 2025

+ CIDADANIA: Uma década perdida para Braga

 

O ano de 2013 prometia ser um momento de grande mudança para Braga. As eleições autárquicas desse ano seriam, para a maioria dos cidadãos, uma oportunidade para reformular as prioridades na gestão do território, dada a alteração inevitável da liderança da Câmara Municipal. Para muitos bracarenses, que confiaram que a mudança de ciclo político e dos seus protagonistas representaria uma profunda alteração no âmbito da valorização patrimonial, esta foi uma década perdida.

Se no âmbito da dinamização cultural, grande parte dos objetivos foram sendo alcançados - salvo a (inexplicavelmente) gorada pretensão de tornar Braga na próxima Capital Europeia da Cultura portuguesa – já no âmbito da valorização patrimonial, a maioria das propostas não passaram de devaneios, jamais ultrapassando as versões eleitoralistas dos desígnios sufragados, as palavras ditas em discursos eivados de dotes oratórios ou as parangonas plantadas na imprensa pelo gabinete de comunicação municipal.

Após mais de uma década, os bracarenses continuam a aguardar pelo famigerado parque eco-monumental das Sete Fontes (será preciso mais de uma década para resolver todas as questões urbanísticas e burocráticas?); permanecem expectantes relativamente à musealização em curso da Ínsula das Carvalheiras ou à (tantas vezes reafirmada) conservação e musealização das ruínas da Estação Arqueológica de Santa Marta das Cortiças; e certamente se encontram desiludidos com o destino do edifício da antiga Saboaria e Perfumaria Confiança, que havia sido adquirido pela Câmara Municipal de Braga (com o suporte dos atuais protagonistas políticos), para ser utilizado para finalidades culturais, estando atualmente a ser transformado numa residência universitária que irá densificar, ainda mais, a área urbanizada naquela zona da cidade.

As grandes conquistas no âmbito da valorização patrimonial não se deveram diretamente à intervenção municipal, de que são exemplo maior o reconhecimento do Santuário do Bom Jesus do Monte como Património da Humanidade pela UNESCO, processo conduzido pela Arquidiocese de Braga e pela Confraria do Bom Jesus, que seria finalizado em 2019; e a inscrição das solenidades da Semana Santa de Braga no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial, uma iniciativa da Comissão da Semana Santa terminada em 2022.

Numa cidade cujos responsáveis afirmam a Cultura como uma prioridade, esfregando no rosto dos mais críticos o título de Capital Nacional da Cultura, que vai ostentar durante o ano que agora se inicia, como justificar que o Museu da Imagem – uma das iniciativas do executivo municipal que havia sido tão criticado por um presumível desleixo cultural – esteja fechado para obras há seis anos; que a Casa dos Crivos, única galeria municipal, se encontre na mesma situação há quatro anos; ou que a Torre de Menagem, que passou a estar aberta em permanência desde 2017, com uma exposição permanente sobre a história da cidade, se encontre encerrada para a substituição de uma trave de madeira?

Por mais eventos que sejam criados ou reformulados, alguns com especiais méritos histórico-patrimoniais, como é o caso da Braga Barroca ou do Festival de Órgão, isso não significa necessariamente uma aposta declarada na valorização patrimonial. Aliás, à luz da presuntiva Estratégia Cultural 2020-2030, já foram sentenciadas algumas das dinâmicas culturais inauguradas no presente ciclo político, como são os paradigmáticos casos do Festival de Guitarra, o programa “Olhó Teatro”, o Concurso de Bandas Filarmónicas, o projeto de Musicologia “Património Musical do Concelho de Braga” ou o Prémio de História Local Dr. Manuel Monteiro.

Como nos diz Umberto Eco, no seu célebre ensaio de crítica cultural, “o Apocalipse é uma obsessão do 'dissenter', a integração é a realidade concreta dos que não dissentem". Ou seja, como traçar uma estratégia cultural tentando impingir à população um conjunto de opções profundamente elitistas, descurando a identidade do território e aquilo que os seus agentes e entidades já produzem? Oferecer mais e melhores condições para a criatividade é um enorme mérito daquele documento, e uma enorme fragilidade do contexto cultural bracarense hodierno, no entanto, jamais poderemos descurar a dinâmica que os bracarenses já são capazes de gerar, nomeadamente a relevância da investigação histórica e todas as expressões da cultura popular.

Desejamos que o ano de 2025 seja efetivamente um momento de transformação para Braga no âmbito da valorização patrimonial. Esperamos, acima de tudo, que as diversas propostas que sejam apresentadas aos bracarenses para o próximo ciclo de governação municipal, não olvidem a relevância histórica e patrimonial do nosso território, mas determinadamente desafiem a teia de interesses instalados e percebam a Cultura, com tudo o que implica no âmbito da valorização patrimonial, como o caminho mais direto para a coesão da comunidade e para a sua afirmação nacional e internacional.

 Será possível entrevermos esperança no futuro de Braga?

 

Rui Ferreira

Presidente da Direção da Braga Mais