A Avenida da Liberdade é,
inquestionavelmente, a principal artéria da cidade de Braga. Surgindo, plausivelmente, no período da
ocupação romana, como arranque de uma via que ligaria Bracara Augusta a Emérita
Augusta, tornar-se-ia numa das suas principais estradas medievais, ligando a
cidade a Guimarães.
Urbanizada
a partir do século XV, seria constituída por duas ruas estreitas e de traçado
irregular: a rua das Águas, a norte, e a rua da Ponte, a sul. No início do
século XX, seria projetada uma “grande e moderna avenida”, cuja ideia inicial
era ligar o Cemitério de Monte d’Arcos ao Parque da Ponte. O ambicioso projeto
limitar-se-ia ao quilómetro compreendido entre a Arcada e a Capela de São João
da Ponte, tendo começado a ser concebida em 1908, com a demolição e ocupação da
zona conventual do Convento dos Remédios.
O
projeto apenas seria finalizado em 1976, com a demolição da desalinhada Igreja
de São Lázaro e a construção dos últimos prédios sobre os edifícios resistentes
das ancestrais artérias. Batizada inicialmente como Avenida João Franco,
haveria de adotar a atual designação com o advento da República, tendo, entre
1935 e 1974, assumido o nome de Avenida Marechal Gomes da Costa.
Requalificada
em 1998, já depois do seu sentido de trânsito ter sido totalmente reformulado
três anos antes, na sequência da abertura do túnel rodoviário, entre 2022 e
2023, a Avenida da Liberdade haveria de ser alvo de nova e marcante
intervenção, no quadro de um projeto com financiamento europeu, intitulado ‘Eu
já passo aqui’, que representou um 3,1 milhões de euros.
Segundo
o projeto, submetido e aprovado no âmbito do Portugal 2020, era objetivo
fundamental “a eliminação de barreiras arquitetónicas, para assegurar um espaço
pedonal mais livre, confortável e inclusivo, isto é, preparado para que pessoas
de mobilidade reduzida pudessem também percorrer o espaço público sem
limitações”. Apesar dos méritos expostos neste propósito fundacional, o projeto
acabaria por não ter em conta outras dimensões, igualmente relevantes, da
Avenida da Liberdade, como é, por exemplo, as Festas de São João.
Já
comprometidos pela requalificação do topo Norte da avenida, realizado em 2009,
no âmbito do alargamento do túnel, os festejos sanjoaninos veriam severamente
condicionada a realização da feira popular, que se costumava implantar entre a
avenida Central e o parque da Ponte, e que era fundamental para unir os dois
epicentros do seu programa.
Desde
o cruzamento com a rua do Raio até ao largo de S. João da Ponte, além da
integração de vias cicláveis mais ou menos segregadas, seriam acrescentadas
passadeiras e um incomensurável número de semáforos que, em alguns casos, são
intermediados por apenas meia centena de metros.
Ser automobilista na Avenida da
Liberdade passou a representar uma verdadeira corrida de obstáculos, com
paragens infindáveis nos diversos semáforos. Em alguns deles, quando finalmente
o verde dispara, não é possível avançar porque está vermelho no seguinte, dado
o tão reduzido espaço entre ambos. E o tempo de espera na rua Conselheiro
Lobato? Há, claramente, um número excessivo de semáforos, passadeiras que não
os justificam e desfasamentos na temporização dos mesmos.
Por sua vez, os peões que
circulam atualmente na Avenida da Liberdade, além de necessitarem de uma
singular atenção para não galgarem a ciclovia que vai atravessando os próprios
passeios, têm de estar dotados de uma incomensurável paciência para aguardar a
passagem nas passadeiras, onde o temporizador não parece ser muito amigável
para os peões. Casos há em que se aguarda quase dois minutos para 20 segundos
de passagem. Se o objetivo era dar prioridade às pessoas de mobilidade
reduzida, será concebível o seu atravessamento em segurança com tão reduzida
temporização?
Conviria, talvez, que os
peritos e especialistas de trânsito do Município de Braga saíssem dos gabinetes
onde conceberam este projeto e se tornassem peões ou automobilistas da Avenida
da Liberdade por um dia. Certamente perceberiam, de imediato, os lapsos
cometidos, que comprometem e condicionam o quotidiano de muitos milhares de
bracarenses.
E, se a humildade abundar nos
gabinetes decisores da edilidade bracarense, além dos imperativos ajustes na
Avenida da Liberdade, convém repensar no projeto do BRT. Como é possível usar
como argumento a verba que o Município desperdiçaria caso desistisse deste tão
apressado e pouco discutido projeto, perante o prejuízo de túneis e viadutos
destruídos – que também representaram investimentos talvez até maiores – além
dos transtornos que essa transformação vai criar no trânsito e na vida dos
bracarenses. Já pensaram nisso?
Rui Ferreira
Presidente da Direção da Braga Mais

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