domingo, 28 de dezembro de 2025

+ CIDADANIA: A avenida da Liberdade condicionada

 


A Avenida da Liberdade é, inquestionavelmente, a principal artéria da cidade de Braga. Surgindo, plausivelmente, no período da ocupação romana, como arranque de uma via que ligaria Bracara Augusta a Emérita Augusta, tornar-se-ia numa das suas principais estradas medievais, ligando a cidade a Guimarães.

Urbanizada a partir do século XV, seria constituída por duas ruas estreitas e de traçado irregular: a rua das Águas, a norte, e a rua da Ponte, a sul. No início do século XX, seria projetada uma “grande e moderna avenida”, cuja ideia inicial era ligar o Cemitério de Monte d’Arcos ao Parque da Ponte. O ambicioso projeto limitar-se-ia ao quilómetro compreendido entre a Arcada e a Capela de São João da Ponte, tendo começado a ser concebida em 1908, com a demolição e ocupação da zona conventual do Convento dos Remédios.

O projeto apenas seria finalizado em 1976, com a demolição da desalinhada Igreja de São Lázaro e a construção dos últimos prédios sobre os edifícios resistentes das ancestrais artérias. Batizada inicialmente como Avenida João Franco, haveria de adotar a atual designação com o advento da República, tendo, entre 1935 e 1974, assumido o nome de Avenida Marechal Gomes da Costa.

Requalificada em 1998, já depois do seu sentido de trânsito ter sido totalmente reformulado três anos antes, na sequência da abertura do túnel rodoviário, entre 2022 e 2023, a Avenida da Liberdade haveria de ser alvo de nova e marcante intervenção, no quadro de um projeto com financiamento europeu, intitulado ‘Eu já passo aqui’, que representou um 3,1 milhões de euros.

Segundo o projeto, submetido e aprovado no âmbito do Portugal 2020, era objetivo fundamental “a eliminação de barreiras arquitetónicas, para assegurar um espaço pedonal mais livre, confortável e inclusivo, isto é, preparado para que pessoas de mobilidade reduzida pudessem também percorrer o espaço público sem limitações”. Apesar dos méritos expostos neste propósito fundacional, o projeto acabaria por não ter em conta outras dimensões, igualmente relevantes, da Avenida da Liberdade, como é, por exemplo, as Festas de São João.

Já comprometidos pela requalificação do topo Norte da avenida, realizado em 2009, no âmbito do alargamento do túnel, os festejos sanjoaninos veriam severamente condicionada a realização da feira popular, que se costumava implantar entre a avenida Central e o parque da Ponte, e que era fundamental para unir os dois epicentros do seu programa.

Desde o cruzamento com a rua do Raio até ao largo de S. João da Ponte, além da integração de vias cicláveis mais ou menos segregadas, seriam acrescentadas passadeiras e um incomensurável número de semáforos que, em alguns casos, são intermediados por apenas meia centena de metros.

Ser automobilista na Avenida da Liberdade passou a representar uma verdadeira corrida de obstáculos, com paragens infindáveis nos diversos semáforos. Em alguns deles, quando finalmente o verde dispara, não é possível avançar porque está vermelho no seguinte, dado o tão reduzido espaço entre ambos. E o tempo de espera na rua Conselheiro Lobato? Há, claramente, um número excessivo de semáforos, passadeiras que não os justificam e desfasamentos na temporização dos mesmos.

Por sua vez, os peões que circulam atualmente na Avenida da Liberdade, além de necessitarem de uma singular atenção para não galgarem a ciclovia que vai atravessando os próprios passeios, têm de estar dotados de uma incomensurável paciência para aguardar a passagem nas passadeiras, onde o temporizador não parece ser muito amigável para os peões. Casos há em que se aguarda quase dois minutos para 20 segundos de passagem. Se o objetivo era dar prioridade às pessoas de mobilidade reduzida, será concebível o seu atravessamento em segurança com tão reduzida temporização?

Conviria, talvez, que os peritos e especialistas de trânsito do Município de Braga saíssem dos gabinetes onde conceberam este projeto e se tornassem peões ou automobilistas da Avenida da Liberdade por um dia. Certamente perceberiam, de imediato, os lapsos cometidos, que comprometem e condicionam o quotidiano de muitos milhares de bracarenses.

E, se a humildade abundar nos gabinetes decisores da edilidade bracarense, além dos imperativos ajustes na Avenida da Liberdade, convém repensar no projeto do BRT. Como é possível usar como argumento a verba que o Município desperdiçaria caso desistisse deste tão apressado e pouco discutido projeto, perante o prejuízo de túneis e viadutos destruídos – que também representaram investimentos talvez até maiores – além dos transtornos que essa transformação vai criar no trânsito e na vida dos bracarenses. Já pensaram nisso? 

 

Rui Ferreira

Presidente da Direção da Braga Mais

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