As efemérides pretendem evocar os acontecimentos memoráveis de uma
determinada comunidade. Trata-se de um momento oportuno para valorizarmos uma
determinada realidade, instituição ou personalidade. Neste ano de 2024,
cumpre-se uma efeméride com particular significado para a cidade de Braga.
Trata-se do centenário da conclusão do Parque da Ponte, uma iniciativa da
edilidade bracarense, concretizada após a implantação da República, nos
terrenos da antiga Quinta da Mitra.
Apesar da maioria dos bracarenses entender o Parque da Ponte como todo
o espaço compreendido entre o rio Este - mais propriamente a avenida Francisco
Pires Gonçalves – e o complexo desportivo onde se implanta o Estádio 1.º de
Maio, o Pavilhão Flávio Sá Leite ou as Piscinas da Ponte, a verdade é que
existem duas áreas distintas, até hoje separadas por um muro. Uma parte
significativa do espaço arborizado que se encontra no entorno da Capela de São
João da Ponte corresponde a uma área pertença da Confraria de São João da
Ponte, cujos direitos transitaram para a Paróquia de Santo Adrião, após a sua
extinção.
Lugar fundamental para a realização da grande
feira e romaria anual em honra de São João Baptista, foi-se tornando, a partir
da segunda metade do século XIX, como um espaço de lazer da comunidade
bracarense, tendo a Câmara Municipal de Braga colaborado na sua manutenção
desde 1839, ano em que deliberou “autorizar o vereador Gaspar da Costa Pereira
Vilhena Coutinho, a mandar fazer assentos de pedra no passeio de São João da
Ponte” (Cf. Arquivo Municipal de Braga). Confirmando-se a utilidade pública
daquele terreno, os serviços municipais foram continuamente tratando do seu
embelezamento e conservação.
A outra área do Parque da Ponte, cujo centenário se assinala no
presente ano, corresponde ao espaço nacionalizado pelo regime republicano,
segundo o decreto datado de 15 de agosto de 1911, no qual é confirmada a
cedência à Câmara Municipal da Braga, “da chamada Quinta da Mitra, sita em São
João da Ponte para horto e parque Municipal”. Esta concessão foi feita a título
provisório, obrigava a edilidade a pagar ao Estado uma renda, “enquanto durarem
as funções administrativas e não for outra coisa definitivamente assente”.
Estava formalmente autorizado o início das obras do tão ambicionado Parque da
Ponte.
Delimitado por um muro, completado pelo gradeamento oitocentista - que
pertenceu ao Passeio Público que existiu na Avenida Central, entre 1863 e 1914
– o Parque (municipal) da Ponte implantou-se nos terrenos da Quinta da Coutada,
um lugar de veraneio que os arcebispos ali possuíam desde o século XV e que o
arcebispo D. Gaspar de Bragança mandara murar na segunda metade do século XVIII
(Peixoto, 1991). Dando resposta aos anseios da população em ter um parque da
cidade, a Câmara Municipal constituiria uma comissão que tinha como missão dar
andamento ao processo de construção do parque.
Constituída por homens influentes na comunidade bracarense como Júlio
de Amorim Lima, António Fernandes de Araújo, Augusto Costa, José do Egipto
Palha e Augusto Veloso, esta comissão haveria de fomentar o desenvolvimento do
recinto como espaço de lazer. Esta mesma Comissão haveria de constituir-se como
Empresa do Parque da Ponte, e durante quase três décadas foi responsável pela
administração do recinto, por delegação municipal.
O projeto, da autoria de José Pedro da Costa, previa a construção de um
grande lago centralizando as áreas ajardinadas, aproveitando-se a fonte
quinhentista ali implantada, bem como a antiga residência dos arcebispos, onde
se previa instalar-se um casino. A obra seria iniciada em 1914, ano em que a parcela
de terreno mais elevada seria transformada num hipódromo, no exato lugar onde
três décadas mais tarde viria a surgir o Estádio 28 de maio. Três anos mais
tarde, em 1917, foram alienadas novas parcelas de terreno para permitir a
construção do horto municipal.
Em 1922 sucederia a inauguração do Hipódromo Amorim Lima, que era
citado à época como um dos melhores do país e estreado nas Festas de São
João desse ano. Dois anos depois, em 1924, seria terminado o grande lago,
concluindo-se formalmente a empreitada do Parque da Ponte, que seria um dos
destaques do Almanaque-Anuário de Braga, publicado nesse ano, que o catalogava
como “novo Éden” e “mais lindo e ridente jardim do Minho”.
A evocação do centenário daquele
que continua a ser o único parque da cidade constitui-se como singular
oportunidade, não apenas para a sua justificada celebração e reconhecimento, mas
também para a imperativa premência de criação de novos parques verdes na densa
malha urbana bracarense.
Rui Ferreira
Presidente da Direção da Braga Mais
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