A cidade de Braga destaca-se atualmente como o principal lugar de
acolhimento de brasileiros em Portugal. O surto migratório, iniciado há quase
uma década, fez crescer exponencialmente a presença da população proveniente do
Brasil na urbe bracarense, acreditando-se que possa corresponder a quase 8% do
total da população urbana.
Segundo os números oficiais, no concelho de Braga conta-se 7 774
imigrantes oriundos do Brasil. No entanto, segundo a autarquia e as associações
de acolhimento esse número pode corresponder ao dobro.
Esta presença tão significativa de brasileiros na cidade de Braga tem
alterado a sua fisionomia e redesenhado os ritmos do quotidiano. Esta
transformação tão acelerada, como qualquer outra mudança, tem provocado reações
díspares na comunidade bracarense. A generalidade da população tem manifestado
um acolhimento exemplar, todavia existe uma minoria que tem expressado
desagrado e, até, alguma agressividade.
A verdade é que esta tão assertiva presença da comunidade brasileira
tem provocado transformações muito positivas na nossa cidade. Além da
revitalização urbana potenciada pela ocupação de apartamentos constantemente vazios
ou pela criação de negócios em espaços comerciais outrora devolutos, estes
novos bracarenses têm-se demarcado pelo seu entusiasmo pela mundividência
bracarense.
Os bracarenses brasileiros, permitam-me assim chamá-los, não têm sido
apenas responsáveis pela dinamização da economia da cidade, mas manifestam um
expressivo afeto pela identidade braguesa. Esta paixão tem-se revelado na
apropriação crescente dos espaços urbanos, como as praças das urbanizações em
que residem e até do olvidado Parque da Ponte, mas também numa intensa
participação nos grandes momentos da nossa vida coletiva, de que a Semana Santa
e as Festas de São João são a expressão mais significativa, contudo também
revelada na inauguração de novas expressões de religiosidade e, até, no
crescimento de associados do Sporting Clube de Braga.
Porém, não se pense que este vínculo de Braga ao Brasil detém apenas
uma década de existência. A ligação histórica da comunidade bracarense com a
antiga Terra de Vera Cruz revela uma particular ancestralidade. Basta recordar
que é em Braga, mais precisamente no Tesouro-Museu da Sé, que se guarda a cruz
que presidiu à primeira missa celebrada em solo brasileiro. Foi desde Braga, e do
seu entorno geográfico, que partiram muitos dos artistas que construíram o
barroco de Minas Gerais. Como não recordar o Bom Jesus de Congonhas, que
procurou replicar o nosso Bom Jesus do Monte? Este intercâmbio cultural ficaria
também patente nos festejos sanjoaninos bracarenses, apelidados em meados do
século XVIII como o “Brasil da cidade”.
Seria ainda devido ao empreendedorismo e capital financeiro dos
“torna-viagem” que a cidade mergulharia num surto desenvolvimento decisivo na
segunda metade do século XIX, tendo estado até na origem da fundação do Banco
do Minho. Quantos bracarenses não se lembram ainda de nomes como Miguel José
Raio, Joaquim Machado Caires ou do Conde de Agrolongo, cuja ação continua
gravada na fisionomia da cidade?
Esta grande comunidade proveniente do outro lado do Atlântico tornou a
cidade de Braga mais alegre, espontânea e bem-disposta, concedendo nova vida a
urbanizações anteriormente decadentes, trazendo movimento e dinâmica às nossas
ruas ou ajudando a valorizar os principais traços da nossa identidade coletiva.
A nossa cidade hoje já não se limita a dançar o vira ou o malhão, mas
agita-se também ao ritmo do samba ou do frevo. À hospitalidade e alegria tão
típicas do povo minhoto, associamos também a excitação, o ruído e o sorriso
espontâneo daqueles que se deixaram deslumbrar pela nossa forma de ser. Esta
Braga brasileira, também conhecida como “Bragasil”, tem, efetivamente,
potenciado o melhor de nós.
Será possível não nos deixarmos entusiasmar com tão proveitosa
presença?
Rui Ferreira
Presidente da Direção da Braga Mais
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