Devido à situação pandémica em
que a nossa sociedade se viu recentemente mergulhada, fomos obrigados a
confrontar-nos com sucessivos estados de emergência, que alteraram sobremaneira
o nosso quotidiano e nos fizeram viver num regime de exceção. Um estado de
emergência é, segundo a Constituição Portuguesa, declarado quando se verifiquem
situações em que “ameacem verificar-se casos de calamidade pública”.
Nos últimos meses tem-se
tornado evidente o estado de degradação e desmazelo da cidade de Braga,
nomeadamente no que se refere ao seu espaço público. As ruas aparecem
ineditamente esburacadas, muitas calçadas desmanteladas, espaços verdes com uma
declarada falta de manutenção, muitas árvores cortadas com insuficiente
justificação e, de forma reiterada, os contentores de lixo e reciclagem vão
aparecendo sobrelotados.
Não sabemos de isto será
suficiente para falarmos de calamidade pública ou se exibe os requisitos
mínimos para uma declaração do estado de emergência, no entanto, exigirá
seguramente uma profunda reflexão da comunidade bracarense. Se adicionarmos a
esta evidente incúria na gestão do espaço público, o trânsito caótico em certos
horários, a crescente insegurança de peões e motociclistas, ou a constante
limitação de acesso às nossas moradas por causa de eventos desportivos
recorrentes, talvez possamos tecer melhores fundamentos para esta situação.
Quantas vezes já não descemos à
rua com o saco do lixo e tivemos que voltar para casa, porque o contentor - o anunciado
sistema moderno e inovador - se encontra a abarrotar de dejetos? Não nos terá
acontecido alguma vez termos descido com o lixo reciclável, para civicamente o
depositarmos no respetivo contentor, e fomos impedidos de o fazer, não nos
restando alternativa senão invertermos o nosso percurso ou depositarmos no
contentor do lixo orgânico, isto se não estiver também repleto?
Não nos teremos deparado também
com agentes da Polícia Municipal a autuar veículos estacionados nos lugares
indevidos num domingo de manhã, precisamente naquelas urbanizações em que foram
efetuadas intervenções que só vieram complicar a vida dos seus moradores,
quando nos deparamos com inúmeras situações que condicionam severamente o
trânsito nos dias úteis, sem que haja lugar a qualquer intervenção das
autoridades?
E como não comentar essa
enfermidade que tanto tem abalado as árvores que tiveram a desdita de ser
implantadas no espaço público de Braga, que tem justificado o abate desenfreado
de centenas de árvores. O temor – meramente particular e individual - de que
uma árvore possa cair novamente em cima de uma pessoa, poderá legitimar esta
autêntica desflorestação urbana?
Todos os bracarenses certamente
já terão deparado com as esburacadas ruas da nossa cidade, consequência
certamente das condições atmosféricas do último outono, mas resultado maior da
ausência da devida manutenção dos pavimentos da parte das entidades públicas. Tudo
isto sucedeu porque, em vez de efetuar a regular substituição e manutenção dos
pavimentos, preferimos financiar ambiciosos planos de comunicação mediática,
muitas vezes implementada por motivações meramente individuais, ou despender
recursos em eventos com orçamentos megalómanos, que nada contribuem para a
identidade da comunidade.
Também na nossa cidade de Braga
vamos permitindo a destruição dos quarteirões do centro histórico, ao arrepio
do que outras cidades bem próximas de nós vão regulamentando, aumentando brutalmente a
impermeabilização dos solos e incrementando o risco de inundações a médio
e longo prazo, as mesmas que já crescentemente nos abalam.
O mais surpreendente desta
situação de emergência é verificarmos a aparente letargia e conformismo de
muitos bracarenses, em particular daqueles que assumiram a representação da
comunidade como sua missão. Convém recordar que aqueles que são eleitos em
sufrágios eleitorais, independentemente de desfrutarem de funções executivas,
assumiram um compromisso com a comunidade, que não se pode manifestar de forma
declarada apenas a seis meses dos atos eleitorais.
Cumprindo a sua missão de
Cidadania, a Braga Mais continuará atente e a fazer valer a sua voz no seio da
comunidade bracarense.
Rui Ferreira
Presidente da Direção da Braga Mais
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