sábado, 25 de fevereiro de 2023

+ CIDADANIA: Uma cidade em estado de emergência

 


Devido à situação pandémica em que a nossa sociedade se viu recentemente mergulhada, fomos obrigados a confrontar-nos com sucessivos estados de emergência, que alteraram sobremaneira o nosso quotidiano e nos fizeram viver num regime de exceção. Um estado de emergência é, segundo a Constituição Portuguesa, declarado quando se verifiquem situações em que “ameacem verificar-se casos de calamidade pública”.

Nos últimos meses tem-se tornado evidente o estado de degradação e desmazelo da cidade de Braga, nomeadamente no que se refere ao seu espaço público. As ruas aparecem ineditamente esburacadas, muitas calçadas desmanteladas, espaços verdes com uma declarada falta de manutenção, muitas árvores cortadas com insuficiente justificação e, de forma reiterada, os contentores de lixo e reciclagem vão aparecendo sobrelotados. 

Não sabemos de isto será suficiente para falarmos de calamidade pública ou se exibe os requisitos mínimos para uma declaração do estado de emergência, no entanto, exigirá seguramente uma profunda reflexão da comunidade bracarense. Se adicionarmos a esta evidente incúria na gestão do espaço público, o trânsito caótico em certos horários, a crescente insegurança de peões e motociclistas, ou a constante limitação de acesso às nossas moradas por causa de eventos desportivos recorrentes, talvez possamos tecer melhores fundamentos para esta situação.

Quantas vezes já não descemos à rua com o saco do lixo e tivemos que voltar para casa, porque o contentor - o anunciado sistema moderno e inovador - se encontra a abarrotar de dejetos? Não nos terá acontecido alguma vez termos descido com o lixo reciclável, para civicamente o depositarmos no respetivo contentor, e fomos impedidos de o fazer, não nos restando alternativa senão invertermos o nosso percurso ou depositarmos no contentor do lixo orgânico, isto se não estiver também repleto?

Não nos teremos deparado também com agentes da Polícia Municipal a autuar veículos estacionados nos lugares indevidos num domingo de manhã, precisamente naquelas urbanizações em que foram efetuadas intervenções que só vieram complicar a vida dos seus moradores, quando nos deparamos com inúmeras situações que condicionam severamente o trânsito nos dias úteis, sem que haja lugar a qualquer intervenção das autoridades?

E como não comentar essa enfermidade que tanto tem abalado as árvores que tiveram a desdita de ser implantadas no espaço público de Braga, que tem justificado o abate desenfreado de centenas de árvores. O temor – meramente particular e individual - de que uma árvore possa cair novamente em cima de uma pessoa, poderá legitimar esta autêntica desflorestação urbana?

Todos os bracarenses certamente já terão deparado com as esburacadas ruas da nossa cidade, consequência certamente das condições atmosféricas do último outono, mas resultado maior da ausência da devida manutenção dos pavimentos da parte das entidades públicas. Tudo isto sucedeu porque, em vez de efetuar a regular substituição e manutenção dos pavimentos, preferimos financiar ambiciosos planos de comunicação mediática, muitas vezes implementada por motivações meramente individuais, ou despender recursos em eventos com orçamentos megalómanos, que nada contribuem para a identidade da comunidade.

Também na nossa cidade de Braga vamos permitindo a destruição dos quarteirões do centro histórico, ao arrepio do que outras cidades bem próximas de nós  vão regulamentando, aumentando brutalmente a impermeabilização dos solos e incrementando o risco de inundações a médio e longo prazo, as mesmas que já crescentemente nos abalam.

O mais surpreendente desta situação de emergência é verificarmos a aparente letargia e conformismo de muitos bracarenses, em particular daqueles que assumiram a representação da comunidade como sua missão. Convém recordar que aqueles que são eleitos em sufrágios eleitorais, independentemente de desfrutarem de funções executivas, assumiram um compromisso com a comunidade, que não se pode manifestar de forma declarada apenas a seis meses dos atos eleitorais.

Cumprindo a sua missão de Cidadania, a Braga Mais continuará atente e a fazer valer a sua voz no seio da comunidade bracarense.

 

 

Rui Ferreira

Presidente da Direção da Braga Mais

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