Se há cidade em que a
água se mostra presente, é na cidade de Braga, cuja história e património
refletem uma íntima relação. É verdade que não temos um grande rio nem estamos
junto ao mar. No entanto, temos um pequeno rio, o Este, que nasce no território
bracarense, mais propriamente na Serra do Carvalho em S. Mamede d’Este, e um
incomensurável rol de fios de água e nascentes.
Ao longo dos séculos, os postos
de abastecimento de água eram os lugares de encontro e convívio. Dada a
sua importância para a cidade, os Arcebispos foram mandando levantar
grandes monumentos da água, as fontes e chafarizes que ainda hoje
adornam as nossas principais praças. Em outras cidades vemos estátuas ou
elevados obeliscos. Em Braga admiramos fontanários artisticamente elaborados e
que se destacam nos conjuntos urbanos em que estão implantados. Alguns
pertenceram a conventos, outros sempre tiveram a missão de dar de beber
aos bracarenses. Grande parte desta água provinha das Sete Fontes, o lugar
que durante séculos deu de beber aos bracarenses. No início do século XVIII se
dizia que Braga tinha cerca de 70 fontes, facto que fazia inveja a
qualquer cidade no centro ou no sul de Portugal.
Esse significativo conjunto de
fontes e fontanários, que brotam displicentemente no espaço urbano de Braga, são
elementos fundamentais no âmbito do património cultural e monumental da cidade,
exigindo, por isso mesmo, da parte das entidades tutelares o zelo pela sua
integridade e preservação. Infelizmente na cidade de Braga temos alguns
exemplos de desalinho, que aqui queremos sublinhar.
O mais paradigmático caso de desmazelo é a Fonte de Santa Bárbara. Fonte
seiscentista que esteve outrora colocada ao centro de um dos claustros do
antigo Convento dos Remédios, demolido em 1911, chegou a estar no Parque da
Ponte e, desde 1949, adorna e batiza o jardim neobarroco que a Câmara Municipal
mandou fazer na cerca do antigo Palácio Arquiepiscopal.
A estátua original de Santa Bárbara, que encimava a fonte, encontra-se
atualmente no Convento do Pópulo. Após um ato de vandalismo que, em 2008,
partiu a escultura em 78 fragmentos, foi colocada uma réplica, em gesso a
imitar gratino, a encimar a fonte. Progressivamente, a frágil réplica vai
descascando a sua mascarilha, e o que se vislumbra atualmente é uma verdadeira lástima.
A Fonte do Pelicano, colocada desde 1967, ao centro da Praça Municipal é outro dos exemplos da negligência municipal. Atribuída a Marceliano de Araújo, é um exemplar artístico do barroco do período joanino, sendo constituída por cinco fontes, uma das quais - ao centro - eleva o brasão do arcebispo D. José de Bragança.
Tal como a Fonte de Santa Bárbara também passou uma temporada no Parque da Ponte, antes de migrar ao seu espaço primitivo, num dos jardins do antigo Paço dos Arcebispos. Desde há alguns anos que os seus elementos escultóricos, especialmente as aves e os seus “putti” (meninos), se encontram mutilados, faltando-lhes pés, braços e até cabeças! A utilização da praça para grandes eventos, nomeadamente as denominadas noites brancas, acabaram por acelerar a sua deterioração. Apesar da sua recente classificação de Interesse Municipal, mantém-se a aparente indiferença dos serviços competentes relativamente ao seu estado de conservação.
Outra das fontes que, há quase uma década, exige uma intervenção é a
antiga Fonte de Infias, hoje colocada num pequeno jardim, localizado na
extremidade nordeste do Campo das Hortas. Trata-se de um fontanário barroco com
um proeminente brasão do arcebispo D. José de Bragança, cuja fundação recua ao
ano de 1742. De elegante recorte, foi para aqui trazido em meados do século XX desde
a sua primitiva implantação no Largo de Infias. Desde há alguns anos, encontra-se
em acelerado risco de aluimento para a praceta vizinha, faltando-lhe já a cruz arcebispal
que o encimava.
Porque a comunidade e, principalmente, os seus representantes eleitos,
têm o dever de zelar pela salvaguarda e proteção do seu património, deixamos
aqui, enquanto associação, o nosso manifesto pelos históricos fontanários da
cidade de Braga.
Rui Ferreira
Presidente da Direção da Braga Mais
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