O Património, conceito especialmente cultivado a
partir da Revolução Francesa, e especialmente fortalecido após a 2.ª Guerra
Mundial, revela-se como dimensão essencial na salvaguarda da memória coletiva
de uma comunidade. No entanto, o património não está limitado aos monumentos. Além
do património imóvel, hoje sabemos que o património também pode ser móvel,
geológico, e até imaterial. E se lhe dissesse que as árvores também podem ser
reconhecidas como património e são dignas até de classificação, tal como os
monumentos?
Neste âmbito, a França foi um dos países pioneiros,
tendo instituído em 2 de maio de 1930 uma lei que levou à proteção de
monumentos naturais. A Convenção para a Proteção do Património Mundial, Cultural
e Natural seria adotada pela UNESCO apenas em 1972.
Portugal aderiu a esta Convenção ano de 1979, consagrando os seus
princípios na nossa legislação, no mesmo período em que instituiu também os
parques e reservas naturais.
Mesmo tratando-se de um bem finito, o
reconhecimento público do património natural, nomeadamente as árvores, convoca
as sociedades, não apenas para a sua proteção legal e inventariação, como convoca
as pessoas para um maior envolvimento na sua salvaguarda e divulgação.
Por isso mesmo, em Portugal possuímos um Registo
Nacional do Arvoredo de Interesse Público que integra “exemplares isolados ou
conjuntos arbóreos que, pela sua representatividade, raridade, porte, idade,
historial, significado cultural ou enquadramento paisagístico”, possam ser considerados
de relevante interesse público e se recomenda a sua cuidadosa conservação.
No território bracarense já existem nove árvores
classificadas. Na cerca do Mosteiro de Tibães dois cedros do Himalaia e um
pinheiro-bravo bicentenário; no Bom Jesus do Monte, um plátano na mata do
santuário e um carvalho-alvarinho junto à Estação do Ascensor; e um sobreiro e
dois carvalhos-alvarinho no jardim junto à Capela de Santa Tecla, em São
Victor. Todavia, a mais majestosa e ancestral árvore bracarense integrada no
Registo Nacional do Arvoredo de Interesse Público é o tulipeiro da Virgínia
que, do alto dos seus 27 metros de altura e quase 300 anos de existência, está
implantado no Jardim do Museu dos Biscainhos.
Esta árvore
exótica, natural do leste da América do Norte, um género de plantas com flor
pertencente à família Magnoliaceae, que está associada à aristocracia
nortenha na região do Minho, que fomentou a sua implantação no território. Com
esta ancestralidade só existem em Portugal três exemplares, um no Porto e dois
na cidade de Braga, um no jardim da Casa do Passadiço e o já citado exemplar
nos Biscainhos.
Associada a
um dos mais relevantes exemplares da arquitetura civil bracarense, esta árvore
encontra-se implantada num dos mais importantes jardins barrocos portugueses.
No ano em que celebramos especialmente André Soares, artista que deixou a sua
marca bem vincada no mesmo jardim, podemos certamente afirmar que terá
contemplado o jovem tulipeiro da Virgínia que hoje podemos admirar.
Esta árvore, que marca indelevelmente a paisagem do
coração braguês, é uma das árvores finalistas para representar Portugal no
concurso europeu “Tree of the Year 2021” (Árvore do ano 2021).
A nível nacional, o concurso é organizado pela
União da Floresta Mediterrânica, que habilita a árvore portuguesa vencedora a
concorrer à votação para a Árvore Europeia do Ano. O concurso da Árvore
Europeia do Ano surgiu em 2011 e foi inspirado num popular concurso organizado
pela República Checa. Desde então, o número de países envolvidos nesta
competição tem vindo a aumentar, sendo o concurso europeu constituído pelos
vencedores dos diferentes concursos nacionais.
O concurso pretende destacar a importância das
árvores antigas na herança cultural e natural, não se focando apenas na beleza,
no tamanho ou na idade da árvore, mas sim na sua relação com a comunidade. A
votação online decorre até 23 de novembro em https://portugal.treeoftheyear.eu/Vote.
Todos os bracarenses estão, pois, convocados para ajudar a fazer do Tulipeiro
dos Biscainhos a Árvore Europeia do Ano.
Rui Ferreira
Presidente da Direção da Braga Mais
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