A toponímia tem
a sua origem etimológica na junção de dois vocábulos gregos, que significam “o
nome do lugar”. A designação toponímica assume especial relevância na
preservação da memória e identidade das comunidades, perpetuando personalidades,
datas ou factos.
O topónimo também nos permite perceber a evolução histórica do lugar e
as pessoas que aí tiveram a sua morada ou desempenhavam o seu ofício. Isto
particularmente se aplica às ruas mais antigas de um determinado núcleo urbano.
A mudança de regimes políticos também aparece refletida na toponímia. Procurando,
por um lado, apagar as denominações associadas ao regime anterior, e por outro
exaltar o neófito regime. Estas alterações, levadas a efeito, muitas vezes, com
fervor excessivo, contribuíram para a ausência de critérios objetivos e
distância crítica. Assim sucedeu na cidade de Braga em diversos momentos. Recordemos
o caso da rua do Souto, que chegou a designar-se rua Rodrigues de Carvalho ou da
rua dos Capelistas que se a chamou de rua Conde de Paçô Vieira. Uma Reforma
Toponímica, promovida em 1942, acabou por corrigir alguns dos excessos
cometidos ainda no período monárquico, devolvendo os primitivos topónimos a
algumas das ruas, que os bracarenses continuavam chamar pelo seu nome original.
A toponímia não deve ser uma mera opção administrativa, nem o somatório
arbitrário de conjunturas políticas ou caprichos pessoais. Deve, sim, obedecer
a um código de ponderação e uma certa racionalidade. Para que serve a toponímia
senão para verter um dispositivo identitário atrás de si, remetendo para a
história dos lugares, mas também homenageando factos e personalidades de
relevância, primordialmente, local. Se as cidades não souberem ressaltar a sua
própria memória coletiva, quem o fará?
É estranho que numa cidade onde prevalecem no entendimento comum
topónimos como “Campo da Vinha”, “Largo das Latinhas”, “rua da Cónega” ou
“Pelames”, insistamos nas designações que, em algum momento, a edilidade
deliberou alterar. Nada me opõe ao Monsenhor Airosa ou ao Conde de Agrolongo,
dado que ambos justificam plenamente figurar na toponímia bracarense, mas teria
que ser à custa de nomes tão significantes para a cidade?
Por que não o regresso aos topónimos originais de algumas ruas, tal
como foi feito, com relativa eficácia, em 1942? Porque não chamar Campo Novo à
Praça Mouzinho de Albuquerque ou rua da Cónega à rua da Boavista? Não é esse o
patente desejo dos bracarenses e um traço que remete para a própria história
dos lugares?
Uma solução adotada por algumas cidades foi colocar a designação
oficial acompanhada de uma alusão ao topónimo original. Também seria uma boa
solução, todavia, em alguns casos, parece óbvia a opção pelo simples regresso à
designação original, tal o grau de apropriação dos cidadãos em relação à
primitiva denominação. O Campo da Vinha é assim designado desde o século XVI. O
seu nome foi alterado duas vezes desde 1865 e os bracarenses continuam a
conhecê-lo pelo seu topónimo original.
Outra questão que a toponímia levanta é o critério de atribuição dos
novos topónimos. Quantos bracarenses saberão quem foi António Macedo ou o que
fez para merecer ter o seu nome na avenida mais extensa da cidade? E qual a
relevância para Braga do rei D. João II ou do literato Antero de Quental, dado
que ambos designam duas das maiores artérias da cidade?
Pessoalmente não entendo como uma figura histórica com a relevância do
Arcebispo D. Rodrigo de Moura Teles não foi escolhido como topónimo dessas
novas ruas surgidas nas décadas mais recentes. É verdade que já se encontra na
toponímia de duas ruas secundárias em freguesias periurbanas, mas não
justificaria maior distinção? E a ausência de referências aos Suevos, que
fizeram de Braga a capital do seu reino ibérico?
Quando falamos da toponímia uma outra problemática se levanta: as
placas toponímicas, dado que passou a ser tutelada pelas juntas de freguesia.
Nos municípios em que os regulamentos de toponímia não especificam um normativo
a este propósito, as ruas tornam-se num verdadeiro depósito de estéticas,
brasões e variações cromáticas.
Sabemos que hodiernamente, a designação toponímica se encontra numa
fase de certa ataraxia. A cidade de Braga alargou-se imenso nas últimas
décadas, refletindo-se na criação de novos arruamentos. No entanto, devido à
existência de muitos espaços por urbanizar, têm sido mais escassas as propostas
toponímicas que têm surgido. Essa circunstância deve obrigar a um critério apertado
no que concerne à atribuição de novos topónimos, mas também poderia inaugurar a
atribuição de topónimos a outros espaços anónimos, como os jardins ou rotundas.
A realização de uma Reforma da Toponímia, acompanhada pela criação de
uma Comissão onde se reunisse um conjunto de pessoas no qual, além dos
políticos responsáveis, teriam assento bracarenses que pensam e aprofundam a
memória e identidade da cidade, aparece como uma possibilidade que poderia
conferir maior sentido à toponímia bracarense, retificando alguns lapsos
cometidos na história mais recente da nossa cidade.
Presidente da Direção da Braga Mais
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