@ Rui Ferreira, 2012 |
No dia 28 de agosto do distante ano de 1089, ainda antes do Conde D. Henrique ter tomado D.ª Teresa como sua esposa, e do filho de ambos, D. Afonso Henriques, ter fortalecido as suas aspirações independentistas no campo de S. Mamede, o altar-mor da Sé de Braga foi solenemente sagrado. Nesse dia, de grata memória, estiveram presentes o Arcebispo de Toledo, D. Bernardo, que presidiu à cerimónia, os Bispos D. Pedro, de Braga, D. Gonçalo, de Lugo, D. Indigo, de Tui, e D. Pedro, de Orense.
O ano de 1071 é essencial para se entender a história da cidade de Braga. A partir da conquista de Coimbra por intermédio de D. Fernando Magno, em 1064, foi devolvida a estabilidade a Braga e ao território envolvente e viabilizada a restauração da antiga capital da Galécia e do reino suevo. Foi o Rei Sancho II da Galiza que patrocinou a restauração dos direitos administrativos eclesiais, designando D. Pedro como Bispo de Braga, em abril de 1071. A construção de uma catedral imponente, substituindo uma anterior basílica de menores dimensões, era fundamental para a afirmação da diocese restaurada. Assim, D. Pedro iniciou o processo de reorganização do território e demarcação da sua sede episcopal. É um facto, atestado pela arqueologia, que o local onde assenta a catedral bracarense foi outrora espaço sagrado para romanos e para cristãos. Investigações recentes confirmaram a existência de uma basílica paleocristã no subsolo da Sé Primaz, atestando a sua origem anterior aos nove séculos que hoje lhe atribuímos. O facto de este edifício ter assentado sensivelmente no local onde hoje está a capela-mor da Sé, poderá confirmar que o culto e a ocupação humana terá sobrevivido até ao século XI, altura em que o Bispo D. Pedro (1071-1093) retomou a história eclesiástica de Braga, após um período em que esteve associada à diocese galega de Lugo (os Bispos de Lugo acumulavam a prelazia de Braga), devido à instabilidade política e social desta região.
Por isso mesmo, o que hoje observamos é resultado de muitos séculos de alterações e acréscimos, que serviram para enriquecer a valia artística do edifício. A própria fachada da Sé é exemplo disso mesmo. De românico já só restam duas arquivoltas do pórtico primitivo (onde se observa o romance da raposa) e, no lado sul, uma interessante coleção de modilhões (a cachorrada) e a porta do sol, que encontrou o seu lugar, após duas mudanças de sítio. A galilé é obra de D. Jorge da Costa (1486-1501), completada pelo inevitável D. Diogo de Sousa (1505-1532), que também mandou alargar a porta principal. O resto da fachada foi alterada pelo Arcebispo D. Rodrigo de Moura Telles, em 1723. No interior atestamos esta mesma dimensão plurissecular, pese embora as alterações questionáveis que a Direção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais levou a cabo na década de 30 do século XX, e que alteraram sobremaneira a Sacrossanta Basílica Primacial Bracarense. O órgão de tubos destaca-se nitidamente entre as obras de arte do interior. Executado a mando do Cabido, numa altura em que não havia Arcebispo nomeado, o conjunto dos dois órgãos é um dos mais importantes do género em toda a Península Ibérica. A talha foi soberbamente executada pelo bracarense Marceliano de Araújo em 1737. Nas naves ressalta ainda o conjunto de esculturas barrocas, retratando os apóstolos e doutores da Igreja; a pia batismal manuelina, o túmulo flamengo do primogénito do Rei D. João I; e os altares colaterais em estilo neoclássico. A capela-mor é obra esplendorosa dos artistas biscainhos (1509). A abóbada de nervuras é atribuída a João de Castilho, um dos grandes mestres da arte renascentista em Portugal, e a rendilhada cabeceira catedralícia, que se observa no exterior, e onde se destaca o nicho com a imagem de Nossa Senhora do Leite, é também obra desse tempo. Sobram as capelas tumulares, onde se destaca a capela da Glória, com o túmulo gótico de D. Gonçalo Pereira, e a capela dos Reis, onde repousam os pais de D. Afonso Henriques, a Condessa D.ª Teresa e o Conde D. Henrique, protagonistas da causa da independência portuguesa.
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