quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Debate "Uma Questão de Confiança" - primeiras impressões

O debate "Uma Questão de Confiança" teve muita adesão e participação

Os oradores convidados - Vitor Sousa (CMB/PS); Luis Tarroso Gomes (Projecto BragaTempo); José Cordeiro (U.Minho); Ricardo Rio (PSD)

O diálogo fez-se com várias participações, sugerindo um novo debate para, desta vez, permitir falar sobre o futuro do imóvel

Foi numa sala mais que lotada que ontem se debateu o futuro da fábrica Confiança. Esse foi o mote lançado pela Associação Braga + para mais uma noite de conversa na cidade onde se preparava para pensar Braga. Este debate funcionou também como o primeiro frente a frente público entre Vitor de Sousa e Ricardo Rio, os dois candidatos, teoricamente mais fortes, na corrida ao município nas eleições autárquicas.
Para além das propostas e do pensamento em relação ao futuro da fábrica (ainda que escassas), a conversa foi marcada pela contextualização do imóvel e tentou-se debater todo o processo que envolveu a sua compra e expropriação. Ainda assim, Vitor de Sousa, na sua intervenção final, aproveitou para criticar toda uma postura assumida por Ricardo Rio no debate. “Respeitei, na íntegra, o papel que deveria ter neste debate. Não critiquei a oposição, não fiz apelos, quase declarados, a voto, não disse que ia ganhar eleições, isto num quadro de respeito absoluto por um debate que quer fazer cidade. O que prejudica esta discussão é aparecerem pessoas que, normalmente, dizem que querem discutir cidade, mas, na verdade, não o querem. Apenas querem fazer confronto político e discutir as atitudes da Câmara”, atirou o vice-presidente da autarquia.
Vitor Sousa não quis, no entanto, deixar de dar alguns achegas sobre o assunto da Confiança.
“Temos um espaço que consideraria como multiusos, muito vocacionado para a musealização do espólio da Confiança, para exposições de temáticas variadas. Poderia servir para ser um grande espaço de exposição de arte contemporânea, uma vez que Braga não está dotada de tal. Para além disso poderia servir para um espaço comercial. Indo ao encontro daquilo que é amplamente discutido e que hoje temos de procurar incentivar, que tem a ver com a aproximação com as estruturas de ciência, poderemos ter lá um ninho de empresas e potenciar o coworking”, resumiu o socialista.
No debate esteve também presente Luís Tarroso Gomes que, no final, deixou algumas questões no ar: “Fico sem saber se as demolições foram ou não licenciadas pela Câmara. A Câmara autorizou, ou não, a demolição da chaminé, da torre, do teatro e dos pavilhões de trás? Fico sem saber! E fico também sem saber porque é que o espaço não está vedado. Resumindo, fico sem saber as respostas às perguntas que fiz há um ano, por isso voltei a trazê-las aqui”

Ricardo Rio acusa os que lhe fazem "ataque político" através deste negócio

Já Ricardo Rio, líder da Coligação Juntos por Braga, assumiu que não se arrepende de nada durante o período em que se envolveu no negócio da Confiança e deixa a acusação: “Há um interesse político de alguém que quis aproveitar este processo para colocar em causa a minha credibilidade e a minha seriedade. Portanto, isso é algo que tenho de refutar de uma forma taxativa. Não espero nenhuma surpresa no processo que está a ser desenvolvido, mas não me desresponsabilizo do meu envolvimento no mesmo. Não me arrependo de ter participado neste processo como participei”, sublinha o social democrata.
Sobre o imóvel e o seu futuro, Ricardo Rio voltou a defender publicamente a necessidade da ligação com a Universidade do Minho (UM) como forma de quebrar barreiras de mobilidade que existem na cidade. “Se temos uma área que é absolutamente colada à UM, que está degradada e não tem qualquer aproveitamento e onde podemos instalar um conjunto de valências que vão atrair os jovens da universidade e outras situações, já estamos a diminuir a proximadade... Já serão 200 metros que ultrapassamos. Se juntarmos essa solução a uma de mobilidade que ultrapasse a barreira que passa em frente ao BragaParque, estamos a cumprir um desígnio. Temos que começar por algum lado”, destacou Ricardo Rio. 

Confiança voltará a ser debatida pela Braga+
No final do debate, Ricardo Silva da JovemCoop, um dos fundadores da associação Braga+ deixou uma certeza de realização de um novo debate sobre o tema. “Se hoje falamos do negócio, na próxima edição daremos uma sequência ao debate e faremos uma espécie de ‘Confiança 2’, onde daremos continuidade à parte do projecto. Não queremos afastar ninguém do debate, não nos deixem desistir a nós, não desistam vocês para que assim, todos juntos, possamos construir Braga, porque é isto que nós queremos”, garantiu Ricardo Silva.
Um novo debate para se pensar o futuro da Confiança foi então uma promessa deixada pela Associação Braga+ no final do debate em torno desta fábrica que muito diz ao bracarenses.

notícia RUM retirada daqui

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

A antiga Saboaria e Perfumaria Confiança

A fábrica Confiança poderá vir a ser um grande polo cultural de Braga
A Perfumaria e Saboaria Confiança foi fundada a 12 de Outubro de 1894, tendo sido seus mentores Rosalvo da Silva Almeida e Manuel dos Santos Pereira, com a firma “Silva Almeida & C.ª”. O capital inicial era de 10 contos de reis, tendo a fábrica ocupado inicialmente o espaço de uma pequena oficina, no mesmo lugar onde se ergue ainda hoje o edifício da rua Nova de Santa Cruz. A média de produção inicial situava-se na ordem de mil caixas de sabão por mês.
Inicialmente a fábrica não contava ainda com mão-de-obra especializada, o que dificultava a evolução da sua eficácia produtiva. Entretanto, e na altura em que o capitalista Domingos José Afonso se juntou ao projecto, em 1898, elevou-se o capital da empresa e foram adquiridas novas máquinas para o fabrico do sabão. Devido a problemas económicos, a 18 de Fevereiro de 1910 o capital evolui e é um período de grande crescimento da fábrica, que coincide com os anos da 1.ª Grande Guerra, aproveitando o espaço de exportação concedido pelas indústrias paralisadas dos países onde decorria o conflito. É nesta altura que se constrói o novo edifício da fábrica, que corresponde em parte ao que actualmente existe. Entretanto vai beneficiar de prémios e reconhecimento nacional, que vão impulsionar a sua produção e divulgar o seu nome no mercado.
 Em 1920 o capital evoluiu para 1.200 contos, podendo elevar-se até 2 mil contos se as necessidades o justificarem. A fábrica teria então cerca de 80 funcionários, que ganhariam anualmente cerca de 200 contos, oferecendo a empresa apoio médico aos funcionários e família, para além de outras regalias, hoje básicas, mas outrora ainda não consignadas nos direitos do trabalhador. Foi também por esta altura que a empresa adoptou pela primeira vez a designação de “Perfumaria e Saboaria Confiança”. Em 1923 a empresa já produzia cerca de 8 mil caixas de sabão mensais, calculando-se que servisse metade do consumo de sabonetes do total da população portuguesa. O objectivo nesta data passava por aperfeiçoar os produtos, tentando responder ao nível de qualidade existente nos produtos da indústria estrangeira.
A Saboaria e Perfumaria Confiança é um caso de notório sucesso entre os empreendimentos industriais da cidade de Braga ao longo da primeira metade do século XX. É certo que, analisando, as indústrias que preencheram o tecido empresarial bracarense ao longo das últimas três décadas, seremos obrigados a relativizar a dimensão da Confiança, dado ser inferior em produção, número de funcionários e volume de negócios. Todavia, percebendo o contexto histórico em que surgiu, a demografia da própria cidade nessa época, e salientando o facto de ser uma empresa detida por bracarenses, seremos obrigados a reconhecer o seu papel fundamental no desenvolvimento de Braga e o seu impacto na vida de uma das freguesias urbanas mais importantes do tecido urbano.
Os mercados principais do sabão eram as regiões circundantes: o Minho, Trás-os-Montes e o Douro. Já o mercado dos sabonetes seguia para todos os lugares do país. África, outrora destino preferencial, acabava por se ver afectada pela situação económica e pelo elevado valor das taxas que impedia a empresa de concorrer com produtos mais baratos.
A década de 50 e 60 foi talvez a época mais próspera da empresa, que dominava o comércio de sabonetes em Portugal. Produziam-se então mensalmente cerca de 3 milhões de dúzias de sabonetes, fornecendo não apenas o comércio a retalho, mas também hotéis e outras empresas que requeriam fabrico próprio. Outros produtos, como perfumes, pó de arroz, cremes, pastas dentífricas, stiques de barbear, águas-de-colónia, loções e essências, foram preenchendo certos nichos de mercado e garantindo a produtividade desta unidade fabril.
Nos anos 80 a Confiança começa a desenvolver novos cosméticos, adaptando fórmulas e oferecendo outras novas, em especial nas formas líquidas de gel de banho e champôs perfumados, como resposta aos novos estilos de vida que se começam a impor e ao pedido incessante de novos produtos por parte dos seus clientes.
Com a crescente liberalização do mercado no espaço europeu, acrescentado ao desinvestimento tecnológico das novas administrações da empresa, a produtividade foi reduzindo o seu volume, sendo a fábrica comprada pela Ach Brito em 2009, abandonando as históricas instalações.
Actualmente ainda são produzidos artigos com a marca Confiança, que são depois vendidos no denominado mercado de charme, como produtos de alto nível. Estes artigos, produzidos parcialmente numa pequena unidade fabril em Sobreposta (Braga), recuperam o rico espólio tipográfico das embalagens da fábrica bracarense.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Uma questão de Confiança



A recuperação para fins culturais da antiga Saboaria e Perfumaria Confiança vai dar o mote para mais um debate público realizado pela, recentemente fundada, associação Braga +. Esta iniciativa, realizada em conjunto com a JovemCoop Natureza e Cultura, vai decorrer na próxima quarta‐feira, 16 de janeiro, a partir das 21h15, na Casa dos Coimbras.

Os intervenientes convidados para este debate são o vice-presidente da Câmara Municipal de Braga, Vítor Sousa; Ricardo Rio, líder da coligação Juntos por Braga; José Lopes Cordeiro, director do museu da indústria textil e investigador na área do património industrial; Luís Tarroso Gomes, um dos promotores do Projecto Braga Tempo, que lançou a polémica sobre os valores envolvidos na compra do imóvel pela autarquia.

O debate, intitulado “Uma questão de Confiança”, vai  estar aberto à participação de todos os cidadãos interessados em discutir esta temática. No local do debate vão poder ser consultadas as 84 propostas que concorreram ao concurso de ideias realizado pela autarquia, após o início do processo de aquisição do último exemplar das históricas indústrias bracarenses.

Recorde‐se que o negócio que envolveu a compra da fábrica Confiança se viu, desde cedo, envolto em polémica, com vários valores em discussão, o que obrigou a autarquia a recorrer à expropriação cifrada em 3,67 milhões de euros. A intenção da Câmara Municipal é a instalação de valências culturais, que permitam a regeneração da zona envolvente e a preservação da memória industrial de Braga.

Este é mais um debate que pretende discutir a cidade e fazer propostas concretas a quem tem o poder de decidir. Por isso mesmo, as ideias abordadas nesta iniciativa vão ser reencaminhadas para os partidos com assento na Assembleia Municipal de Braga. Este será também o primeiro debate público que vai contar com a participação dos dois principais candidatos à Câmara Municipal de Braga, nas eleições que se realizam em outubro próximo.

A Perfumaria e Saboaria Confiança foi fundada a 12 de Outubro de 1894, tendo-se tornado num caso de notório sucesso entre os empreendimentos industriais da cidade de Braga ao longo do século XX. Após o desaparecimento das grandes fábricas de chapéus, o imóvel da Confiança tornou-se no último exemplar do património industrial da cidade de Braga.