domingo, 16 de junho de 2024

+ CIDADANIA: Por que não um Museu de Braga?

 

Os Museus são espaços fundamentais para a evocação da memória de uma comunidade, mas também se afirmam como progressivamente decisivos para a criatividade e inovação. Não podendo ser apenas um depósito de objetos, estático e inflexível, além de uma exposição permanente adequada à missão previamente definida, um Museu deve ser um espaço dinâmico, em que o seu espólio possa ser explorado em diferentes narrativas, através de exposições temporárias ou outras ações que possam valorizar a sua missão e continuar a atrair a comunidade que servem.

Um Museu não pode ser um espaço parado no tempo, limitado à exposição dos mesmos objetos ou à explanação das mesmas narrativas. Se assim for, por que motivo um visitante poderá lá regressar?

A necessidade de repensar continuamente o conceito de museu, tem conduzido o Conselho Internacional de Museus (ICOM) a refletir sobre a missão que é especialmente confiada a estas instituições. Por isso mesmo, em 2022 foi aprovada uma nova definição de Museu. “Um museu é uma instituição permanente, sem fins lucrativos, a serviço da sociedade, que investiga, coleciona, preserva, interpreta e expõe o patrimônio material e imaterial. Abertos ao público, acessíveis e inclusivos, os museus promovem a diversidade e a sustentabilidade. Atuam e se comunicam de forma ética, profissional e com a participação das comunidades, oferecendo experiências variadas de educação, fruição, reflexão e troca de conhecimentos”.

A premência de uma reflexão sobre o papel dos museus na sociedade também se estende a Portugal, onde têm surgido visões promissoras e oportunas sobre a sua missão. Nas últimas duas décadas vimos surgir modelos de gestão integrada dos espaços museológicos em que se procura, não apenas uma maior eficácia na gestão operacional, mas principalmente uma complementaridade na missão, uma vez que cada um dos espaços aborda temáticas distintas, mas, em conjunto, oferecem uma visão geral sobre a comunidade onde se implantam. Este princípio foi fazendo surgir projetos de Museus de Cidade em que os núcleos museológicos de diversos âmbitos e períodos históricos oferecem uma narrativa conjunta ao visitante. Desta forma, podem iniciar um percurso num núcleo museológico devotado à arqueologia, percorrendo em seguida o passado medieval, renascentista ou barroco, terminando o percurso numa abordagem mais contemporânea.

A primeira cidade portuguesa a avançar para uma solução deste âmbito foi o Porto que, em 2002, criou o Museu da Cidade do Porto, no qual reuniu cinco espaços museológicos, cuja missão era exercida em complementaridade. Ponderando inicialmente a construção de um grande museu da cidade, a edilidade portuense deliberaria depois instituir uma entidade que desse sentido aos núcleos museológicos já existentes, que, em conjunto, vão abordando as diversas temáticas e facetas da história e identidade da cidade.

Mais tarde, em 2015, também a cidade de Lisboa aderiria a este conceito, com a criação do Museu de Lisboa, “com o propósito de aglutinar uma parte considerável da herança museológica municipal da cidade”, incluindo o seu núcleo principal de exposição, e outros espaços museológicos do período romano, medieval ou renascentista, mas também um museu que explora o seu Património Imaterial, tendo previsto incluir um outro núcleo devotado ao Património Industrial.

Inspirando-se nestes modelos, também a cidade de Braga poderia repensar a sua forma de gestão dos espaços museológicos, não apenas aqueles que estão sob a alçada da Câmara Municipal, mas também os museus de gestão estatal ou da Igreja. Também os pequenos núcleos museológicos já existentes poderiam ser integrados nesta nova abordagem, cujos primeiros beneficiários seriam os bracarenses. A criação de um Museu da Cidade de Braga, em que os visitantes seriam convidados a percorrer a história da cidade progressivamente através dos diversos núcleos museológicos já existentes, permitiria uma visão alargada da nossa identidade comum. Também as instituições de ensino seriam especialmente favorecidas com esta visão estruturada da missão dos museus bracarenses. 

Os modelos de  gestão integrada dos espaços museológicos municipais, que deverá ser alargada aos espaços museológicos de outras instituições, pode constituir-se como uma oportunidade para uma oferta cultural estruturada, em que cada espaço remete para os demais e a missão de cada instituição se complementa e, eventualmente, inaugura oportunidades de colaboração.

 Por que não um Museu da Cidade em Braga?

 

 

Rui Ferreira

Presidente da Direção da Braga Mais

terça-feira, 14 de maio de 2024

MEMÓRIAS DE BRAGA: Oficina de São José

 

    A Braga Mais, em parceria com a União de Freguesias de São Lázaro e São João do Souto, promove no próximo dia 14 de junho, pelas 21h15, mais uma sessão do ciclo Memórias de Braga, que se vai debruçar sobre a Oficina de São José, uma das mais reputadas instituições sociais bracarenses.

Esta sessão evocativa, que se realiza nas instalações da Oficina de São José, sitas na rua do Raio, tendo como convidados Maria Ivone da Paz Soareshistoriadora e coordenadora do livro "Da memória ao presente: a história da Oficina de S. José de Braga" , e também do diretor técnico da instituição, Serafim Gonçalves.

A Oficina de São José foi criada em 1889, por iniciativa do Arcebispo D. António José de Freitas Honorato, com a pretensão de acolher rapazes provenientes de situações familiares ou sociais de risco e oferecer-lhes um futuro. Inicialmente instalada no Campo Novo, a Oficina de São José passaria depois pelo edifício da rua de São João onde atualmente se encontra a Casa das Zitas. As atuais instalações, localizadas na rua do Raio, foram inauguradas em 1951.

Detendo uma singular intervenção na comunidade bracarense, a Oficina de São José manteve, durante quase meio século uma banda filarmónica, além de oficinas gráficas, que ainda se mantêm em atividade, conjuntamente com as congéneres do Diário do Minho.

Como vem sendo habitual, durante a sessão estará exposta uma pequena mostra de documentos e fotografias recolhidos por Fernando Mendes, que complementam a informação que será abordada nesta sessão.

Recorde-se que o ciclo Memórias de Braga realiza-se, com constância trimestral. Cada conversa, que se quer informal, anda à volta de um ou mais convidados. O objetivo é mesmo o de conversar, público e convidados, no sentido de partilhar e construir memórias sobre a cidade.

 

segunda-feira, 6 de maio de 2024

+ PATRIMÓNIO: Visita Guiada "Aqui (já não) vimos Mãe Querida"

 

A Associação Braga Mais, juntamente com a Irmandade de Nossa Senhora da Torre, vai organizar na manhã do próximo sábado, dia 11 de maio a visita guiada “Aqui já não vimos Mãe Querida”, que pretende evocar as devoções marianas bracarenses que outrora exibiram particular vitalidade.

Esta iniciativa, que coincide com o mês que os cristãos devotam particularmente à Virgem Maria, tem como ponto de partida a Igreja do Salvador, pelas 10h00.

No vasto repositório de cultos da religiosidade bracarense floresceram inúmeras devoções particulares à Mãe de Jesus, à qual seria devotada a Catedral, e a própria cidade em pleno século XII. Até ao auge de popularidade atingido por Nossa Senhora do Sameiro na contemporaneidade, foram algumas as evocações marianas que almejaram singular vitalidade.

Como não lembrar a popular Nossa Senhora das Graças, venerada no malogrado Convento dos Remédios, que centralizou o devocionário bracarense do mês de Maria até à afirmação definitiva do Sameiro. Ou as devoções marianas que tutelavam as principais portas das muralhas medievais, como foi o caso de Nossa Senhora da Ajuda ou de Nossa Senhora da Abadia.

Nesta lista não podem também estar ausentes as opulentas práticas devocionais que os carmelitas realizavam a Nossa Senhora do Carmo que os jesuítas devotavam a Nossa Senhora da Boa Morte.

Esta evocação tem passagem obrigatória no Oratório da Senhora da Torre onde vai ser lembrada esta devoção mariana, recentemente reabilitada, que foi instalada no século XVII no interior de uma das torres do circuito defensivo bracarense, e que obteria singular protagonismo a partir do terramoto de 1755.

Esta visita guiada conta com a colaboração do Lar Conde de Agrolongo e da Unidade Pastoral da Cividade e S. João do Souto.

sábado, 24 de fevereiro de 2024

+ CIDADANIA: O centenário do Parque da Ponte

 

As efemérides pretendem evocar os acontecimentos memoráveis de uma determinada comunidade. Trata-se de um momento oportuno para valorizarmos uma determinada realidade, instituição ou personalidade. Neste ano de 2024, cumpre-se uma efeméride com particular significado para a cidade de Braga. Trata-se do centenário da conclusão do Parque da Ponte, uma iniciativa da edilidade bracarense, concretizada após a implantação da República, nos terrenos da antiga Quinta da Mitra.

Apesar da maioria dos bracarenses entender o Parque da Ponte como todo o espaço compreendido entre o rio Este - mais propriamente a avenida Francisco Pires Gonçalves – e o complexo desportivo onde se implanta o Estádio 1.º de Maio, o Pavilhão Flávio Sá Leite ou as Piscinas da Ponte, a verdade é que existem duas áreas distintas, até hoje separadas por um muro. Uma parte significativa do espaço arborizado que se encontra no entorno da Capela de São João da Ponte corresponde a uma área pertença da Confraria de São João da Ponte, cujos direitos transitaram para a Paróquia de Santo Adrião, após a sua extinção.

  Lugar fundamental para a realização da grande feira e romaria anual em honra de São João Baptista, foi-se tornando, a partir da segunda metade do século XIX, como um espaço de lazer da comunidade bracarense, tendo a Câmara Municipal de Braga colaborado na sua manutenção desde 1839, ano em que deliberou “autorizar o vereador Gaspar da Costa Pereira Vilhena Coutinho, a mandar fazer assentos de pedra no passeio de São João da Ponte” (Cf. Arquivo Municipal de Braga). Confirmando-se a utilidade pública daquele terreno, os serviços municipais foram continuamente tratando do seu embelezamento e conservação.

A outra área do Parque da Ponte, cujo centenário se assinala no presente ano, corresponde ao espaço nacionalizado pelo regime republicano, segundo o decreto datado de 15 de agosto de 1911, no qual é confirmada a cedência à Câmara Municipal da Braga, “da chamada Quinta da Mitra, sita em São João da Ponte para horto e parque Municipal”. Esta concessão foi feita a título provisório, obrigava a edilidade a pagar ao Estado uma renda, “enquanto durarem as funções administrativas e não for outra coisa definitivamente assente”. Estava formalmente autorizado o início das obras do tão ambicionado Parque da Ponte.

Delimitado por um muro, completado pelo gradeamento oitocentista - que pertenceu ao Passeio Público que existiu na Avenida Central, entre 1863 e 1914 – o Parque (municipal) da Ponte implantou-se nos terrenos da Quinta da Coutada, um lugar de veraneio que os arcebispos ali possuíam desde o século XV e que o arcebispo D. Gaspar de Bragança mandara murar na segunda metade do século XVIII (Peixoto, 1991). Dando resposta aos anseios da população em ter um parque da cidade, a Câmara Municipal constituiria uma comissão que tinha como missão dar andamento ao processo de construção do parque.

Constituída por homens influentes na comunidade bracarense como Júlio de Amorim Lima, António Fernandes de Araújo, Augusto Costa, José do Egipto Palha e Augusto Veloso, esta comissão haveria de fomentar o desenvolvimento do recinto como espaço de lazer. Esta mesma Comissão haveria de constituir-se como Empresa do Parque da Ponte, e durante quase três décadas foi responsável pela administração do recinto, por delegação municipal.

O projeto, da autoria de José Pedro da Costa, previa a construção de um grande lago centralizando as áreas ajardinadas, aproveitando-se a fonte quinhentista ali implantada, bem como a antiga residência dos arcebispos, onde se previa instalar-se um casino. A obra seria iniciada em 1914, ano em que a parcela de terreno mais elevada seria transformada num hipódromo, no exato lugar onde três décadas mais tarde viria a surgir o Estádio 28 de maio. Três anos mais tarde, em 1917, foram alienadas novas parcelas de terreno para permitir a construção do horto municipal.

Em 1922 sucederia a inauguração do Hipódromo Amorim Lima, que era citado à época como um dos melhores do país e estreado nas Festas de São João desse ano. Dois anos depois, em 1924, seria terminado o grande lago, concluindo-se formalmente a empreitada do Parque da Ponte, que seria um dos destaques do Almanaque-Anuário de Braga, publicado nesse ano, que o catalogava como “novo Éden” e “mais lindo e ridente jardim do Minho”.

                A evocação do centenário daquele que continua a ser o único parque da cidade constitui-se como singular oportunidade, não apenas para a sua justificada celebração e reconhecimento, mas também para a imperativa premência de criação de novos parques verdes na densa malha urbana bracarense.

 

 

Rui Ferreira

Presidente da Direção da Braga Mais

+ CIDADANIA: A Arte da Talha

 

Correio do Minho, 27/01/2024

sábado, 30 de dezembro de 2023

+ CIDADANIA: Réquiem pelo Museu da Imagem

 


A palavra “réquiem” provém do vocábulo latino “requiem”, uma derivação de “requies”, que significa descanso ou repouso. Este termo designa habitualmente as celebrações cristãs realizadas em homenagem aos defuntos. O nosso propósito é, por conseguinte, prestar homenagem a um espaço cultural de enorme mérito, que subsistiu na nossa comunidade ao longo de mais de 20 anos.

O Museu da Imagem foi um espaço cultural, que nasceu no edifício da antiga farmácia Alvim e num antigo torreão da fortificação medieval contíguo, inaugurado a 25 de abril de 1999, destinado à realização de exposições de fotografia e à conservação e inventariação dos arquivos fotográficos das antigas casas de fotografia Aliança e Pelicano.

Este equipamento cultural, realizado por iniciativa dos executivos liderados por Francisco Mesquita Machado, inseria-se numa particular dinâmica que a cidade e os seus agentes culturais foram gerando em torno da fotografia, e que confirmariam Braga como um dos principais lugares da Imagem em Portugal.

Ao longo de quase década e meia, o técnico-superior do Museu da Imagem foi Rui Prata, desenhando uma programação meritória, que conciliava a fotografia contemporânea – destacando-se particularmente os Encontros da Imagem - com a inventariação progressiva do espólio fotográfico, através da realização de exposições e da publicação dos respetivos catálogos. Desde 2013 que o edifício revelava diversas fragilidades ao nível das coberturas e do isolamento, tendo até sido colocado em risco a conservação do seu espólio fotográfico, como seria oportunamente denunciado pela investigadora Catarina Miranda Basso.

Apesar do vereador responsável pelo Pelouro da Cultura, entre 2013 e 2021, continuamente inserir como prioridade do seu plano anual de atividades a empreitada de reabilitação do Museu da Imagem, também incessantemente esse desiderato era barrado no gabinete-mor da edilidade. Aquele espaço museológico permaneceria aberto até ao derradeiro trimestre de 2019, momento em que as infiltrações e as condições de segurança já não permitiam que continuasse em atividade. Desde essa data permanece encerrado, sem data prevista para reabrir.

Todos os anos, por ocasião da discussão das Grandes Opções do Plano, é notícia o presumível investimento da Câmara Municipal de Braga no Museu da Imagem, mas todos os anos também não é iniciado qualquer procedimento concursal nesse sentido, como, aliás, vai sucedendo com a musealização da Ínsula das Carvalheiras ou da Estação Arqueológica de Santa Marta das Cortiças, entre outros.

Entretanto, logo após as restrições provocadas pela pandemia de covid 19, também a Torre de Menagem encerraria ao público, supostamente devido à necessidade de substituição de vigas madeira de alguns degraus interiores, desperdiçando-se a exposição permanente sobre a história da cidade de Braga, ali instalada desde 2017. Uma empreitada demasiado simples e módica para justificar três anos de encerramento.

Recentemente também a Casa dos Crivos, única galeria municipal, encerraria as suas portas, mais uma vez para serem realizadas obras de reabilitação. Terá o mesmo destino que o Museu da Imagem? Como é possível que os três espaços de exposição geridos pela Divisão de Cultura da Câmara Municipal de Braga estejam encerrados em simultâneo? Quão grande é a apatia e alheamento da sociedade civil e dos partidos políticos quanto à realidade da nossa cidade?

Considerando os adiamentos contínuos da empreitada de reabilitação do Museu da Imagem, aliado ao facto de, no presente mandato, a pasta da Cultura ser da responsabilidade do principal agente pelo seu encerramento, podemos concluir que dificilmente a situação se alterará.

A deliberação que se vai entrevendo é, certamente, mais um motivo para justificar por que Braga não foi escolhida para ser a próxima sede portuguesa da Capital Europeia da Cultura. Uma cidade que ostensivamente encerra os seus espaços culturais, ou que desperdiça equipamentos adquiridos com essa finalidade, para nele ser edificada uma residência universitária, não merece tal distinção.

Perante os indícios que nos têm sido continuamente oferecidos pela Câmara Municipal de Braga, não nos resta outra alternativa senão agradecer todos os contributos que foram oferecidos pelo Museu da Imagem à dinâmica cultural da cidade de Braga, ao longo de duas décadas, e celebrarmos um Réquiem por mais um espaço cultural bracarense. R. I. P.

 

 Rui Ferreira

Presidente da Direção da Braga Mais

+ CIDADANIA: Feira Popular de Braga

Correio do Minho, 02/12/2023