Há precisamente treze anos, num
espaço de opinião como este, escrevia um artigo intitulado “Repensar as Festas
de São João em Braga”, no qual discorri um conjunto alargado de sugestões que
visavam resgatar as festividades sanjoaninas de um declínio que se estava a
acentuar nos anos antecedentes.
Por feliz decisão do novo
executivo municipal, em 2013, logo depois de terminar a minha dissertação de
mestrado sobre as sanjoaninas bracarenses, assumiria a presidência da
Associação de Festas de São João de Braga, tendo a singular possibilidade de
colocar em prática as intenções que o conhecimento aprofundado da sua história
e práticas, mas também o afeto e as memórias construídas desde a infância, me
permitiram elaborar.
Procedemos, então, a uma
profunda reformulação da organização e da programação, construindo uma equipa
de preparação representativa dos bracarenses e criando uma equipa de
voluntários, que funcionaria também como centro de recrutamento para o futuro
da organização.
A transparência passou a
integrar a forma de estar da organização, abrindo-se a programação às sugestões
dos cidadãos e das suas instituições e associações, sendo tornadas públicas as
contas após cada exercício anual.
Apostou-se na comunicação e nos
meios digitais, procurando regressar à matriz iconográfica construída ao longo
de cinco décadas pelo Mestre José Veiga. Os foguetes e os balões regressaram à
festa. A ligação entre os dois núcleos da festa – centro histórico e Parque da
Ponte – foi fomentada com a regulação da feira popular ali instalada,
dividindo-se as iniciativas entre ambos os núcleos e fazendo partir a Parada
Folclórica, instituída em 2014, a partir de São João da Ponte.
O papel das bandas filarmónicas
foi fomentado, reforçando-se a tradição do despique de bandas nos dois núcleos
da festa, e sendo criado, juntamente com a Câmara Municipal, um Concurso de
Bandas, que reforçaria o seu papel nas festividades.
A programação seria totalmente
reformulada, reforçando-se o Cortejo Sanjoanino, com um novo Carro do rei David
e um Carro das Ervas mais vinculado à identidade minhota. Criamos o Cortejo
Histórico, remetendo para a evolução histórica dos festejos. Reintroduzimos a
Batalha das Flores, integrada na procissão do São João, mas também o Concurso
de Cascatas, que não se realizava há 16 anos, ou a Festa de Encerramento, que
tinha deixado de se fazer. Iniciamos a realização da Gala Sanjoanina nas festas
de 2015 e concedemos dimensão ao Festival de Cavaquinhos iniciado em 2013.
Reforçamos o cartaz com a presença de grandes artistas e contruímos anualmente
um programa alargado de exposições e publicações. Celebramos intensamente os
400 anos da Capela de São João da Ponte e procuramos construir parcerias com as
demais Romarias do Minho.
Se é verdade que a generalidade
das dinâmicas inauguradas nas Festas de 2014 continuam a vigorar e servem de
base à atual organização, é um facto que o investimento municipal está muito
distante da sua relevância efetiva para a comunidade. Fundamentalmente não se
entende como é que um evento de catálogo (Noite Branca), que tantas localidades
fazem no nosso país e que tem pouca relação com a identidade da cidade, merece
um investimento municipal cinco vezes maior do que as Festas da Cidade!?
As Festas de São João não são
apenas mais um evento da cidade, nem tão pouco se dirigem apenas um determinado
nicho da população. As Festas de São João não são elitistas, mas destinam-se a
todos os bracarenses. São, efetivamente e imponderavelmente, de Braga. Por isso
mesmo, a sua organização e programação deveriam emanar essa essência,
conciliando uma tradição que carrega os sons, os cheiros e os gestos mais
autênticos da identidade bracarense, com as práticas e dinâmicas do presente.
E mesmo aqueles que vêm
questionando os sons e práticas que a população brasileira tem acrescentado à
festa, não se devem esquecer que os festejos juninos são uma grande celebração
no Brasil - particularmente no Nordeste - e que têm tudo a ver connosco. Foram
os portugueses, muitos deles minhotos, que ensinaram aos brasileiros a festejar
o São João. Em meados do século XVIII, o cronista bracarense Inácio José
Peixoto dizia que os festejos de São João em Braga eram o “Brasil da cidade”,
em alusão a esse intercâmbio cultural já pronunciado desde há três séculos
atrás.
As Festas de São João são o
maior património coletivo bracarense. Por isso mesmo, pertencem a todos aqueles
que nasceram em Braga e também a todos que escolheram a nossa cidade como sua. Todos
os sons, todas as práticas, todos os cheiros são bem-vindos!
Respondendo à questão de
partida, evidentemente que o São João é mesmo de Braga, no entanto, urge que
essa verdade, apodítica para a maioria dos bracarenses, apareça vertida nas
opções das principais instituições da nossa cidade.
Esperemos, sinceramente que o
próximo Presidente da Câmara e o seu executivo municipal, olhem para o São João
como as Festas da Cidade e mobilizem efetivamente os meios que esse estatuto
justifica.
Rui Ferreira
Presidente da Direção da Braga Mais
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