sábado, 21 de junho de 2025

+ CIDADANIA: O São João é mesmo de Braga?

 

Há precisamente treze anos, num espaço de opinião como este, escrevia um artigo intitulado “Repensar as Festas de São João em Braga”, no qual discorri um conjunto alargado de sugestões que visavam resgatar as festividades sanjoaninas de um declínio que se estava a acentuar nos anos antecedentes.

Por feliz decisão do novo executivo municipal, em 2013, logo depois de terminar a minha dissertação de mestrado sobre as sanjoaninas bracarenses, assumiria a presidência da Associação de Festas de São João de Braga, tendo a singular possibilidade de colocar em prática as intenções que o conhecimento aprofundado da sua história e práticas, mas também o afeto e as memórias construídas desde a infância, me permitiram elaborar.

Procedemos, então, a uma profunda reformulação da organização e da programação, construindo uma equipa de preparação representativa dos bracarenses e criando uma equipa de voluntários, que funcionaria também como centro de recrutamento para o futuro da organização.

A transparência passou a integrar a forma de estar da organização, abrindo-se a programação às sugestões dos cidadãos e das suas instituições e associações, sendo tornadas públicas as contas após cada exercício anual.

Apostou-se na comunicação e nos meios digitais, procurando regressar à matriz iconográfica construída ao longo de cinco décadas pelo Mestre José Veiga. Os foguetes e os balões regressaram à festa. A ligação entre os dois núcleos da festa – centro histórico e Parque da Ponte – foi fomentada com a regulação da feira popular ali instalada, dividindo-se as iniciativas entre ambos os núcleos e fazendo partir a Parada Folclórica, instituída em 2014, a partir de São João da Ponte.

O papel das bandas filarmónicas foi fomentado, reforçando-se a tradição do despique de bandas nos dois núcleos da festa, e sendo criado, juntamente com a Câmara Municipal, um Concurso de Bandas, que reforçaria o seu papel nas festividades.

A programação seria totalmente reformulada, reforçando-se o Cortejo Sanjoanino, com um novo Carro do rei David e um Carro das Ervas mais vinculado à identidade minhota. Criamos o Cortejo Histórico, remetendo para a evolução histórica dos festejos. Reintroduzimos a Batalha das Flores, integrada na procissão do São João, mas também o Concurso de Cascatas, que não se realizava há 16 anos, ou a Festa de Encerramento, que tinha deixado de se fazer. Iniciamos a realização da Gala Sanjoanina nas festas de 2015 e concedemos dimensão ao Festival de Cavaquinhos iniciado em 2013. Reforçamos o cartaz com a presença de grandes artistas e contruímos anualmente um programa alargado de exposições e publicações. Celebramos intensamente os 400 anos da Capela de São João da Ponte e procuramos construir parcerias com as demais Romarias do Minho.

Se é verdade que a generalidade das dinâmicas inauguradas nas Festas de 2014 continuam a vigorar e servem de base à atual organização, é um facto que o investimento municipal está muito distante da sua relevância efetiva para a comunidade. Fundamentalmente não se entende como é que um evento de catálogo (Noite Branca), que tantas localidades fazem no nosso país e que tem pouca relação com a identidade da cidade, merece um investimento municipal cinco vezes maior do que as Festas da Cidade!?

As Festas de São João não são apenas mais um evento da cidade, nem tão pouco se dirigem apenas um determinado nicho da população. As Festas de São João não são elitistas, mas destinam-se a todos os bracarenses. São, efetivamente e imponderavelmente, de Braga. Por isso mesmo, a sua organização e programação deveriam emanar essa essência, conciliando uma tradição que carrega os sons, os cheiros e os gestos mais autênticos da identidade bracarense, com as práticas e dinâmicas do presente.

E mesmo aqueles que vêm questionando os sons e práticas que a população brasileira tem acrescentado à festa, não se devem esquecer que os festejos juninos são uma grande celebração no Brasil - particularmente no Nordeste - e que têm tudo a ver connosco. Foram os portugueses, muitos deles minhotos, que ensinaram aos brasileiros a festejar o São João. Em meados do século XVIII, o cronista bracarense Inácio José Peixoto dizia que os festejos de São João em Braga eram o “Brasil da cidade”, em alusão a esse intercâmbio cultural já pronunciado desde há três séculos atrás.

As Festas de São João são o maior património coletivo bracarense. Por isso mesmo, pertencem a todos aqueles que nasceram em Braga e também a todos que escolheram a nossa cidade como sua. Todos os sons, todas as práticas, todos os cheiros são bem-vindos!

Respondendo à questão de partida, evidentemente que o São João é mesmo de Braga, no entanto, urge que essa verdade, apodítica para a maioria dos bracarenses, apareça vertida nas opções das principais instituições da nossa cidade.

Esperemos, sinceramente que o próximo Presidente da Câmara e o seu executivo municipal, olhem para o São João como as Festas da Cidade e mobilizem efetivamente os meios que esse estatuto justifica.

 

Rui Ferreira

Presidente da Direção da Braga Mais

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