Muitos
bracarenses já subiram certamente à montanha de Santa Marta das Cortiças, o
terceiro ponto mais alto do território bracarense, com 562 metros de altura,
onde certamente beneficiaram de uma panorâmica dominante sobre o território
circundante.
Apesar
de estar inevitavelmente associada à singela Capela de Santa Marta, que ali se
implanta há, pelo menos, um milénio, além de uma estátua a Nossa Senhora da
Assunção ali colocada na década de 1950, esta montanha foi um dos mais
importantes lugares de implantação da comunidade humana, desde, pelo menos a
Idade do Bronze Final, ou seja, algures entre o século XI e VII antes de
Cristo.
O
castro ali implantado haveria de ser romanizado a partir do século II antes de
Cristo, servindo, seis séculos depois, plausivelmente, para acolher, os
monarcas suevos, que aqui instalariam a sua morada preferencial.
Albano Belino, o célebre
arqueólogo bracarense, aqui efetuaria prospeções no final do século XIX,
alertando para a relevância patrimonial do lugar. A partir de 1953,
suceder-se-iam escavações realizadas pelo Cónego Arlindo Ribeiro da Cunha e
Russel Cortez, tendo sido, no entanto, as escavações sistemáticas realizadas, entre
1966 e 1973, por Rigaud de Sousa aquelas que melhor aclarariam os vestígios ali
implantados. Em 1985-86 seria a Unidade de Arqueologia da Universidade do
Minho, a realizar novas escavações dirigidas por Manuela Martins.
Além dos vestígios de um
povoado castrejo de significativas dimensões, os arqueólogos descobriram os
alicerces de uma basílica paleocristã, bem como um vasto conjunto palatino
considerado por alguns investigadores portugueses e espanhóis como a possível
residência dos reis suevos. Para além da muralha que circundava o palácio e a
basílica também se conservam vestígios do sistema defensivo do castro da
Proto-História que aí existiu muito antes. Aliás uma sondagem efetuada mais
recentemente pela Universidade do Minho, demonstrou que a ocupação do monte
recua pelo menos à Idade do Bronze Final.
Além
de todos estes vestígios de enorme relevância patrimonial, há também diversas
referências documentais, entre os séculos X e XI, à existência de um castelo roqueiro,
que certamente terá aproveitado os vestígios das estruturas edificadas ali
existentes. Da mesma época datam as notícias mais antigas referentes à ermida
devotada a Santa Marta. Um documento do Mosteiro de Guimarães datado de 924 e,
particularmente, a primeira versão do senhorio eclesiástico de Braga em 1112,
atestam que a devoção de Santa Marta já estava implantada na montanha das
Cortiças, muito tempo antes do arcebispo D. Diogo de Sousa reedificar a capela
em 1520.
Classificada como Imóvel de
Interesse Público desde 1955, precisamente no decorrer do período mais intenso
de escavações, a Estação Arqueológica de Santa Marta das Cortiças aguarda, até
hoje, o desenvolvimento de um projeto de valorização.
Desde o projeto desenvolvido
pela Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho há quase duas décadas,
passando pelos propósitos eleitorais de listas sucessivamente sufragadas na
Câmara Municipal de Braga, até à mais recente notícia que dava nota de uma
candidatura a fundos comunitários que permitissem financiar a obra, a verdade é
que nada foi feito, mesmo com uma parceria assumida entre a entidades
envolvidas, nomeadamente a Paróquia de Esporões, proprietária da maior parte do
terreno onde se implantam os vestígios arqueológicos.
Segundo
a Convenção de Malta, o património arqueológico constituiu-se como “fonte da
memória colectiva europeia e instrumento de estudo histórico e científico”, que
o categoriza inevitavelmente como um espólio que permite teorizar acerca do
passado.
O
crescente interesse verificado por este tipo de património cultural, deverá
constituir-se como um valor acrescentado do ponto de vista económico, dado que
é potenciador de desenvolvimento turístico. Esta fator poderá permitir no
futuro que o facto de um privado ou uma autarquia descobrirem um achado desta
índole, não seja sinónimo de atraso ou atrofia, mas possa contribuir para
valorizar os próprios projetos, dado que é possível compatibilizar o património
arqueológico com o edificado.
A criação da Estação
Arqueológica de Santa Marta das Cortiças pode constituir-se como elemento
determinante para a afirmação de Braga numa outra dimensão fundamental do
Património Cultural, como mais relevante centro evocativo da presença suévica
na Península Ibérica.
Rui Ferreira
Presidente da Direção da Braga Mais
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