quinta-feira, 13 de novembro de 2025

+ CULTURA: Percurso evocativo da Braga Maldita

 


A associação Braga + vai organizar, no próximo dia 22 de novembro, mais um percurso pelo património bracarense, desta feita evocando alguns episódios ‘malditos’ da história da cidade.

Todas as comunidades acumulam nos seus anais episódios memoráveis, gravados para a posteridade devido ao impacto que provocariam na sua fisionomia. Muitos destes acontecimentos resultaram, certamente, de conquistas, engrandecimentos ou momentos de entusiasmo coletivo, no entanto alguns outros foram provocados por conjunturas mais desventurosas.

                Também a cidade de Braga experimentaria alguns momentos funestos, tragédias inesperadas, catástrofes imprevistas ou outros acontecimentos infaustos, malditos. Não foram muitos, é verdade, mas são paradigmáticos dos momentos de crise que a comunidade vivenciaria e superaria.

                A visita guiada ‘Braga Maldita’, que tem início marcado pelas 10h00 no Largo de São João da Ponte, vai recordar episódios como a grande tempestade de 1779, que destruiu pontes, casas e matou 23 pessoas; o violento incêndio que destruiu uma parte do Paço dos Arcebispos em 1866; a chacina no general Bernardim Freire de Andrade, que não quis defender a cidade perante a invasão dos exércitos napoleónicos; o malogrado morticínio de bracarenses ocorrido a 20 de dezembro de 1846, ocorrido no contexto da revolução do Minho; ou a tragédia da avioneta, celebrizada pela Basílica dos Congregados, ocorrida em 1944, entre outros momentos infaustos gravados nos anais bracarenses.  

Este percurso, que tem participação livre, terá a duração de 90 minutos e será orientado por Rui Ferreira. 

No final desta iniciativa terá lugar um almoço de confraternização, assinalando o 13.º aniversário da Braga Mais. Quem pretender inscrever-se pode fazê-lo através do email associacaobragamais@gmail.com até ao dia 20 de novembro.

 

terça-feira, 4 de novembro de 2025

+ CIDADANIA: O que falta à Santa Marta das Cortiças?

 

Muitos bracarenses já subiram certamente à montanha de Santa Marta das Cortiças, o terceiro ponto mais alto do território bracarense, com 562 metros de altura, onde certamente beneficiaram de uma panorâmica dominante sobre o território circundante.

Apesar de estar inevitavelmente associada à singela Capela de Santa Marta, que ali se implanta há, pelo menos, um milénio, além de uma estátua a Nossa Senhora da Assunção ali colocada na década de 1950, esta montanha foi um dos mais importantes lugares de implantação da comunidade humana, desde, pelo menos a Idade do Bronze Final, ou seja, algures entre o século XI e VII antes de Cristo.

O castro ali implantado haveria de ser romanizado a partir do século II antes de Cristo, servindo, seis séculos depois, plausivelmente, para acolher, os monarcas suevos, que aqui instalariam a sua morada preferencial.

Albano Belino, o célebre arqueólogo bracarense, aqui efetuaria prospeções no final do século XIX, alertando para a relevância patrimonial do lugar. A partir de 1953, suceder-se-iam escavações realizadas pelo Cónego Arlindo Ribeiro da Cunha e Russel Cortez, tendo sido, no entanto, as escavações sistemáticas realizadas, entre 1966 e 1973, por Rigaud de Sousa aquelas que melhor aclarariam os vestígios ali implantados. Em 1985-86 seria a Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho, a realizar novas escavações dirigidas por Manuela Martins.

Além dos vestígios de um povoado castrejo de significativas dimensões, os arqueólogos descobriram os alicerces de uma basílica paleocristã, bem como um vasto conjunto palatino considerado por alguns investigadores portugueses e espanhóis como a possível residência dos reis suevos. Para além da muralha que circundava o palácio e a basílica também se conservam vestígios do sistema defensivo do castro da Proto-História que aí existiu muito antes. Aliás uma sondagem efetuada mais recentemente pela Universidade do Minho, demonstrou que a ocupação do monte recua pelo menos à Idade do Bronze Final.

Além de todos estes vestígios de enorme relevância patrimonial, há também diversas referências documentais, entre os séculos X e XI, à existência de um castelo roqueiro, que certamente terá aproveitado os vestígios das estruturas edificadas ali existentes. Da mesma época datam as notícias mais antigas referentes à ermida devotada a Santa Marta. Um documento do Mosteiro de Guimarães datado de 924 e, particularmente, a primeira versão do senhorio eclesiástico de Braga em 1112, atestam que a devoção de Santa Marta já estava implantada na montanha das Cortiças, muito tempo antes do arcebispo D. Diogo de Sousa reedificar a capela em 1520.

Classificada como Imóvel de Interesse Público desde 1955, precisamente no decorrer do período mais intenso de escavações, a Estação Arqueológica de Santa Marta das Cortiças aguarda, até hoje, o desenvolvimento de um projeto de valorização.

Desde o projeto desenvolvido pela Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho há quase duas décadas, passando pelos propósitos eleitorais de listas sucessivamente sufragadas na Câmara Municipal de Braga, até à mais recente notícia que dava nota de uma candidatura a fundos comunitários que permitissem financiar a obra, a verdade é que nada foi feito, mesmo com uma parceria assumida entre a entidades envolvidas, nomeadamente a Paróquia de Esporões, proprietária da maior parte do terreno onde se implantam os vestígios arqueológicos. 

Segundo a Convenção de Malta, o património arqueológico constituiu-se como “fonte da memória colectiva europeia e instrumento de estudo histórico e científico”, que o categoriza inevitavelmente como um espólio que permite teorizar acerca do passado.

O crescente interesse verificado por este tipo de património cultural, deverá constituir-se como um valor acrescentado do ponto de vista económico, dado que é potenciador de desenvolvimento turístico. Esta fator poderá permitir no futuro que o facto de um privado ou uma autarquia descobrirem um achado desta índole, não seja sinónimo de atraso ou atrofia, mas possa contribuir para valorizar os próprios projetos, dado que é possível compatibilizar o património arqueológico com o edificado.

A criação da Estação Arqueológica de Santa Marta das Cortiças pode constituir-se como elemento determinante para a afirmação de Braga numa outra dimensão fundamental do Património Cultural, como mais relevante centro evocativo da presença suévica na Península Ibérica.

 

 

Rui Ferreira

Presidente da Direção da Braga Mais