A Câmara Municipal de Braga desistiu da construção de uma
variante, na qual estava prevista a passagem sobre os terrenos onde assenta o complexo
eco-monumental das Sete Fontes.
Esta ideia foi defendida pelo vereador responsável pelo
pelouro do urbanismo, Hugo Pires, intervindo como convidado em mais um debate
público promovido, na passada quinta-feira, pelas associações JovemCoop e Braga
+, que tinha como tema o monumento que mais mobilizou os bracarenses no último
século.
«Posso garantir que a variante de acesso à Estrada Nacional
103 não vai passar pelas Sete Fontes», afirmou este responsável, completando
que «se não houver alternativa» a este traçado, o projeto poderá mesmo «ser abandonado».
Hugo Pires: «Se fosse hoje estaria mal permitir a construção nas Sete Fontes»
Salientando que a intenção da autarquia é «impermeabilizar o
menos possível o solo das Sete Fontes», o vereador que assumiu, desde 2009, a
pasta do urbanismo não conseguiu garantir que não haverá mais construções nos
terrenos onde assenta as Sete Fontes.
«Estamos empenhados em reduzir ao máximo a capacidade
construtiva», asseverou, perante as muitas questões que lhe foram endereçadas.
Num debate que lotou o auditório da Junta de Freguesia de S.
Victor, Hugo Pires confessou ainda que a autarquia «esteve mal» ao permitir a
urbanização naqueles terrenos, ocorrida aquando da revisão do Plano Director
Municipal em 2001.
«Hoje, à luz do que sabemos hoje, penso que era
desnecessário», admitiu, reconhecendo publicamente, pela primeira vez, o erro
da autarquia na classificação dos terrenos das Sete Fontes como solo
urbanizável.
Este responsável autárquico aproveitou ainda a oportunidade
para anunciar a intenção da Câmara Municipal de Braga em adjudicar quatro grandes
áreas verdes na zona urbana, nomeadamente criando um parque verde nas Sete
Fontes e um outro, que está em estudo, «entre Lomar e Ferreiros».
Firmino Marques: «Não pode
haver inocentes na questão das Sete Fontes»
Um dos nomes mais sonantes pela preservação das Sete Fontes,
Firmino Marques, foi também interveniente na mesa de discussão de um debate
moderado pelo coordenador-geral da JovemCoop, Ricardo Silva.
Para o presidente da Junta de Freguesia de S. Victor, o ano
de 2001 «foi um momento chave para as Sete Fontes», salientando que foi
«gravíssima a classificação dos terrenos das Sete Fontes como área
urbanizável».
«Não pode haver inocentes na questão do desenvolvimento»,
atirou, deixando no ar uma crítica implícita à ação do executivo municipal.
O autarca recordou ainda que assumiu o policiamento do
monumento, «sem ter essa competência», dada a «negligência» a que estava
votado.
«Não sou um extremista das Sete Fontes, como alguns dizem.
Sou um extremista de Braga e dos bons costumes», referiu ainda.
Firmino Marques defendeu também a necessidade de homenagear
José Moreira, «um dos rostos pela defesa das Sete Fontes», que a Câmara
Municipal de Braga tem rejeitado memorar.
Miguel Bandeira: «Trocava
10 Confianças pela reabilitação das Sete Fontes»
Convidado também para este debate, Miguel Bandeira,
representante da ASPA, lamentou o facto das Sete Fontes «continuarem a aguardar
proteção», estando sujeitas a «poluição», «vandalismo» e «evidente degradação».
«Quem representa o interesse público deve tomar a dianteira
na proteção e salvaguarda deste monumento», sublinhou, recordando que se trata
de «um património que pertence a todos».
O geógrafo da Universidade do Minho fez questão de
sublinhar, diversas vezes, os 18 anos passados desde o primeiro alerta dado em
relação ao monumento.
«O grande problema é estarmos todos de acordo», referiu,
mostrando a sua perplexidade pelo facto de as Sete Fontes estarem «cada vez
pior» apesar desta unanimidade.
«Eu trocava 10 fábricas Confianças em troca da reabilitação das
Sete Fontes», acrescentou.
No início do debate público, realizado no mesmo dia em que
se assinalava o Dia Internacional dos Monumentos e Sítios, Miguel Bandeira foi
agraciado com o título de sócio honorário da Braga +.
Isabel Caldeira: «As Sete
Fontes não podem esperar por decisões políticas»
Na qualidade de representante do movimento cívico dos
peticionários pela salvaguarda das Sete Fontes, Isabel Caldeira lamentou o
facto do processo das Sete Fontes não se apresentar como «transparente» aos
olhos dos cidadãos.
«Se fosse um processo transparente, não deveriam ser
colocadas as questões num debate público, mas olho no olho com as entidades
implicadas na proteção das Sete Fontes», referiu.
Contradizendo a ideia veiculada por Hugo Pires de que a
autarquia sempre quis proteger o monumento, a representante dos peticionários,
que em 2010 conseguiram reunir cerca de seis mil assinaturas pela salvaguarda
do monumento, expôs um relatório no qual a Câmara Municipal de Braga admitia
que «outros objetivos transcendem a importância do próprio monumento».
Para Isabel Caldeira, «as Sete Fontes não podem esperar por
mais decisões políticas», sublinhando que os cidadãos já estão «fartos» de
«incêndios», «abates de árvores», «poluição» e «ameaças à integridade do
monumento».
Interveniente neste debate, na qualidade de participante,
foi Carlos Almeida, candidato da CDU à Câmara Municipal de Braga, que recordou
que «o parque verde das Sete Fontes já esteve orçamentado e nunca foi feito».
Reconhecendo que «há culpas da Administração Central» quanto
ao atual estado de conservação das Sete Fontes, o deputado municipal aproveitou
a sua intervenção para sublinhar que «entre 1995 e 2001 o governo era
socialista e nada foi feito».
Já para a vereadora do ambiente, Ilda Carneiro, os serviços
camarários «têm prestado todo o auxílio possível à limpeza e manutenção das
Sete Fontes», reconhecendo que os proprietários dos terrenos já foram
notificados acerca da necessidade de efetuar a limpeza periódica dos espaços.
Intervindo também como participante no debate, Ricardo Rio
preferiu sublinhar a «incoerência» da autarquia quanto ao anúncio de novos
espaços verdes na cidade, recordando os «largos hectares de relvados
sintéticos» construídos no município, em detrimento da construção de parques.
«Se o atual executivo sempre quis proteger as Sete Fontes,
como veio hoje dizer, então porque até agora tinha a pretensão de construir uma
variante que iria colocar em risco o monumento?», questionou ainda o líder da
oposição camarária e candidato às próximas eleições autárquicas.
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